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Câmara de Sintra negoceia comprar Quinta do Relógio Imprimir E-mail

10.01.13, Público, Luís Filipe Sebastião

A Quinta do Relógio, cujo actual palacete foi mandado construir pelo traficante de escravos Pinto da Fonseca, poderá vir a ser comprada pela Câmara de Sintra. A singular propriedade está entre diversos imóveis em negociação pela autarquia, mas no executivo municipal existem dúvidas quanto ao valor elevado da transacção e ao destino a dar ao palacete.

O presidente da autarquia, Fernando Seara, propõe hoje à vereação que o município possa contrair um empréstimo de 26,6 milhões de euros junto da banca, a 15 anos. A verba destina-se a adquirir espaços onde já estão implantados equipamentos (complexo de Fitares e escola no Cacém), avançar com a ampliação de nove escolas e comprar a Quinta do Relógio.

O palácio projectado pelo arquitecto António Tomás Fonseca (cerca de 1860), e a quinta na estrada para Monserrate estão classificados de "interesse público". O edifício com cinco portais arabizantes sucedeu a outro imóvel, com uma torre que dava as horas através de numerosos sinos, que acabou por dar nome à quinta depois remodelada pelo comerciante alcunhado de Monte Cristo por causa da sua vida aventurosa e atribulada. O exótico palacete, que ostenta inscrições em árabe com a divisa dos reis de Granada, acolheu em "lua-de-mel" o rei D. Carlos e D. Maria Amélia de Orleães.

A actual proprietária está disposta a alienar a quinta por 6,75 milhões de euros, valor abaixo do inicialmente pretendido, que, segundo fonte camarária, seria "de mais de oito milhões de euros". Fernando Seara adiantou ao PÚBLICO que se trata de "um montante máximo" ainda em discussão e que "só será fechado se for concretizado o empréstimo". O social-democrata estima "em 1,5 a dois milhões de euros" o valor adicional para reabilitar o imóvel.

"A ideia é articular a Quinta do Re-lógio como pólo de atracção complementar da Quinta da Regaleira, e criar um ponto de divulgação turística no acesso ao caminho da serra", explicou Fernando Seara, acrescentando que o imóvel poderá ser adaptado para a criação de um auditório e um centro de exposições. A parte mais baixa dos jardins, admitiu o autarca, pode ainda viabilizar a criação de "uma pequena bolsa de estacionamento" perto da Regaleira, que recebeu no ano passado cerca de 200 mil visitantes.

"Somos favoráveis à compra de edifícios históricos, desde que haja uma política para o seu aproveitamento cultural, não os condenando ao abandono como acontece com a Quinta da Ribafria [Lourel] e a Quinta Nova da Assunção, em Belas", comentou uma fonte da CDU. Outras dúvidas residem na avaliação da propriedade. Um eleito do PS também defendeu que a compra da quinta deve ser discutida em separado do empréstimo, "gravoso para as contas municipais", após "se saber para o que serve e quanto se vai lá gastar".

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