09.11.10, Público, Cátia Vilaça
Uma parte significativa da paisagem metropolitana do Porto "choca pelo desalinho e disfuncionalidade". Quem o afirma é Teresa Andresen, arquitecta e uma das intervenientes num vídeo ontem exibido no auditório da Fundação de Serralves, no Porto, sobre Interstícios urbanos, no âmbito de uma conferência que teve como mote a paisagem metropolitana.
Estes interstícios são zonas da cidade escondidas na malha urbana e sem
qualquer tipo de planeamento que, segundo o investigador Hélder
Pacheco, são "terras de ninguém". Nuno Portas, arquitecto, defende que
esses vazios se convertam em espaços que permitam à cidade respirar, ou
seja, o facto de se tratar de áreas desaproveitadas não implica que o
seu destino seja a construção de edifícios. Poderiam dar origem a
parques semelhantes aos que abundam em Londres, uma das sugestões que o
vídeo deixou no ar.
Para observar uma boa fracção destes espaços abandonados, os autores do
vídeo, coordenado por Célia Ramos, da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional-Norte, sugerem uma viagem de metro,
curiosamente entre dois ex libris da cidade: o aeroporto - que, de
acordo com o bió-logo Alexandre Quintanilha, é "uma das estruturas mais
bem sucedidas da cidade" - e a Casa da Música, descrita por Teresa
Andresen como um grande contributo "para a criação de uma nova
centralidade".
O debate, que já tinha discutido o projecto de criação de uma rede
metropolitana de parques, com especial incidência sobre um caderno de
boas práticas a desenvolver para a manutenção dos espaços existentes e
revisão de procedimentos na preservação dos solos e recursos hídricos,
regressou ao tema através de Emídio Gomes, que trabalhou a questão na
junta metropolitana, onde está a cessar funções.
Este docente universitário encara o desenvolvimento sustentável como
"uma das mais-valias na captação de investimento". Diz não se tratar de
uma questão superficial, mas algo que os investidores se preocupam em
saber antes de direccionarem recursos. E entende que Portugal tem
praticado "um modelo de governação errado", ao oscilar entre o
excessivo centralismo e casos de "pulverização" abusiva do poder
autárquico, que têm dificultado o crescimento sustentado e que apenas
seria resolvido com a regionalização.
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