Público, Margarida Gomes, 09.10.14
O último mandato de Rui Rio à frente da Câmara do Porto deverá ser acompanhado de diversas alterações na vereação e da reestruturação de alguns pelouros. As mudanças mais importantes deverão ser a saída de Matilde Alves do pelouro da Habitação e Acção Social, onde deverá ser substituída por Guilhermina Rego, e a passagem de Gonçalo Gonçalves para o Urbanismo. O vereador não deverá ter, contudo, o poder executivo sobre os temas mais complexos, já que a intenção de Rio passará por entregar essas funções a Poças Martins.
O homem-forte das Águas do Porto deverá ser o novo responsável pelo
Urbanismo no município. Como não integra as listas de Rui Rio, a
solução poderá passar pela transformação do pelouro numa empresa
municipal, similar àquela que já existe em Vila Nova de Gaia, a GaiUrb
(e que Poças Martins ajudou a fundar). Gonçalo Gonçalves deixará o
pelouro da Cultura, Turismo e Lazer para assumir o do Urbanismo, mas a
gestão dos dossiers mais complexos, como a necessidade de elaborar as
Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG"s) previstas no Plano
Director Municipal, deverá ficar nas mãos de Poças Martins.
A empresa do engenheiro civil, a GIDEA, foi contratada pela Câmara do
Porto para gerir as Águas do Porto, pagando-lhe o município 128 mil
euros anuais. Como o próprio Rui Rio explicou, durante os debates da
campanha eleitoral, esta foi a forma encontrada para poder contar com a
colaboração de Poças Martins, uma vez que o engenheiro impôs como
condição para deixar as Águas de Douro e Paiva manter o mesmo ordenado
que auferia naquela empresa. Como, por lei, a Câmara Municipal não
poderia pagar a um funcionário o salário superior a 10 mil euros por
mês, a solução passou pela contratação da empresa, em regime de
prestação de serviços.
Matilde Alves, responsável pela Habitação e Acção Social desde meados
do primeiro mandato de Rui Rio (depois da saída de Paulo Morais para o
Urbanismo), é, provavelmente, a outra grande surpresa do mandato. Rio
já afirmou que este pelouro é muito desgastante, abrindo a porta a
Guilhermina Rego para ficar com a pasta e a quatro anos mais pacatos
para Matilde Alves, cujo destino mais provável será o pelouro da
Educação. Esta área deverá ser separada do actual pelouro de Educação,
Juventude e Inovação entregue a Vladimiro Feliz. O vereador terá sido
um dos que manifestaram algum descontentamento com o pelouro que
assumiram, devendo ficar, agora, apenas com a área da Inovação.
Elisa convoca vereadores
A reunião que Elisa Ferreira tinha convocado para ontem com os
vereadores da lista eleitos no domingo foi adiada para depois de
amanhã. Ao que o PÚBLICO apurou, Elisa convocou não apenas os
vereadores e os suplentes da lista, mas também os outros candidatos que
foram eleitos para a Assembleia Municipal do Porto. Dificuldades de
agenda terão levado ao adiamento da reunião de ontem destinada a fazer
o balanço das eleições autárquicas e, ao mesmo tempo, a definir uma
estratégia de oposição à maioria de direita que vai governar a Câmara
do Porto por mais um mandato.
Pela primeira vez, a oposição fica entregue a um independente, Manuel
Correia Fernandes. Francisco Assis, o rosto da candidatura socialista
em 2005, não antecipa quaisquer dificuldades pelo facto de a oposição a
Rui Rio vir a ser liderada por um independente. "Manuel Correia
Fernandes tem um pensamento muito elaborado sobre a cidade e é uma
pessoa com qualidade política e que se identifica com o PS", disse ao
PÚBLICO Francisco Assis.
Apesar do optimismo com que encara esta solução, Assis vai dizendo que
terá de haver uma articulação entre os vereadores independentes e os do
partido. "Tem de haver esse esforço, quer de um lado quer do outro",
diz, considerando a "experiência interessante". "Até porque", sublinha
Assis, "as pessoas que estão na lista têm uma militância de esquerda".
"Do meu ponto de vista, considero que não há riscos excessivos nesta
solução e que temos de confiar no pragmatismo e no bom senso das
pessoas." Prossegue o ainda vereador: "Se todos ficarem, e é esse o
entendimento que parece existir, é bom para o Porto, porque são pessoas
de grande craveira." "E se é bom para o Porto é bom para o PS",
acrescentou Francisco Assis, que amanhã assume o lugar de deputado na
Assembleia da República.
Perante a derrota do PS no Porto, Assis diz que é preciso virar a
página e "superar as feridas que ficaram abertas relativamente à forma
como o processo foi conduzido, porque há muito trabalho a fazer e a
câmara precisa de uma oposição séria e firme".
|