Público, Ricardo Garcia, 09.10.09
Todos se preocupam com a qualidade de vida.
Mas os rankingsque quantificam o bem-estar dos cidadãos em Portugal não coincidem nos resultados
Pergunte a dez pessoas o que é viver bem, e as respostas serão tão variadas quanto a cabeça de cada um. Pode não haver consenso, mas não haverá autarca que negligencie o tema da qualidade de vida.
Que o digam os líderes dos municípios que ficaram bem colocados num ranking divulgado em Julho passado pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social, da Universidade da Beira Interior.
Com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o
observatório criou um índice que sintetiza o desenvolvimento e o
bem-estar de cada um dos 278 municípios de Portugal continental.
"Os que ficam bem classificados convidam-nos para apresentar os
resultados", afirma o investigador José Pires Manso, responsável pelo
observatório e co-autor do estudo. Alguns municípios até publicitaram,
em cartazes de rua, a sua boa posição.
No outro extremo, porém, houve reacções opostas. Inconformado com o seu
261.º lugar, o município de São Pedro do Sul apresentou uma providência
cautelar para impedir a divulgação do estudo por todo e qualquer meio,
julgando-o sem validade científica. Até agora, não teve sucesso.
Falar da qualidade de vida é fácil, mas avaliá-la de forma cabal é
praticamente impossível. Uma mesma cidade pode estar bem num índice,
mas ficar pior noutro. É o caso de Viseu, a melhor capital de distrito
do país, segundo um trabalho de 2007 da revista Deco-Proteste. No
estudo da Universidade da Beira Interior, porém, Viseu ficou em 68.ª
posição. "Até os mesmos autores, com as mesmas variáveis, podem chegar
a conclusões diferentes", afirma José Manso.
Em Portugal, há várias experiências, todas diferentes. O estudo da
Universidade da Beira Interior utiliza dados objectivos, do INE. Mas
deixa de fora aspectos valorizados em outros índices, como a
mobilidade, que não constam dos anuários estatísticos. Se fossem
incluídos, Lisboa - bem classificada - seria muito mais penalizada.
O melhor para viver
O estudo da Deco partiu de inquéritos feitos no final de 2006,
classificando as cidades conforme o que pensam os seus habitantes. Com
isso, a capital do país foi relegada ao penúltimo lugar no ranking.
Já o Instituto de Tecnologia Comportamental (Intec) combinou ambos,
dados objectivos e inquéritos.
Este ano, o segundo em que o seu índice
M2V é divulgado, Angra do Heroísmo, nos Açores, emergiu como o "melhor
município para viver".
Ao contrário de outros índices, o M2V avalia cidades que querem ser
avaliadas. No total, foram 20 este ano. E o facto de aceitarem
submeter-se ao índice é um sintoma de que a qualidade de vida importa
aos autarcas e de que, naqueles casos, há alguma confiança nos
resultados. "São uma boa amostra do que há de melhor", diz Miguel
Pereira Lopes, presidente do Intec.
José Manso, da Universidade da
Beira Interior, afirma que vários autarcas mostram-se interessados em
saber como podem melhorar a sua posição no ranking. No Porto, a própria
câmara lançou o seu sistema de monitorização da qualidade de vida. Dois
relatórios (2003 e 2004) estão disponíveis no siteda autarquia.
Muitos exemplos mostram que as câmaras
procuram soluções diferentes para tornar a vida dos seus cidadãos mais
aprazível. Corredores verdes, infraestruturas para bicicletas, oferta
cultural, medidas de segurança, há de tudo. Santarém e Torres Novas
estão até a prescindir de parte das taxas de urbanização se os
promotores imobiliários aderirem a um sistema de certificação de
sustentabilidade - o LiderA - do Instituto Superior Técnico.
Entre
vários critérios a cumprir, alguns têm a ver directamente com aspectos
que as pessoas normalmente valorizam quando pensam em qualidade de
vida, como a facilidade de acesso a transportes públicos.
Nas palavras de Miguel Lopes, do Intec, a qualidade de vida é
genericamente entendida pelos cidadãos como "a possibilidade de se ter
o estilo de vida ideal". É um mundo vasto para qualquer autarca.
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