Público, 10.09.09, Jorge Marmelo
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) comemora hoje o 40.º aniversário. Melhor: a data que hoje se assinala é a da criação, ainda em plena ditadura marcelista, da Comissão Consultiva Regional, o organismo que foi o embrião da actual CCDRN. Em 40 anos, porém, mudou quase tudo, das competências ao enquadramento institucional, e Carlos Lage, o actual presidente, faz questão de que a data sirva para "abrir novos horizontes" e reflectir sobre o que falta fazer: a criação das regiões administrativas.
"As regiões, ao contrário de outros preceitos constitucionais,
ficaram pelo caminho, mas queremos fazer um esforço para que esse
projecto seja retomado e se dê à regionalização o benefício da dúvida.
Os opositores das regiões tiveram trinta anos para mostrar serviço e o
país não ganhou nada com isso", disse Carlos Lage ao PÚBLICO. Após
quatro anos na presidência da CCDRN, este militante socialista afirma
que a experiência lhe permitiu reforçar a convicção de que "é muito
difícil promover o desenvolvimento regional sem a regionalização".
"Os países que têm regiões estão hoje melhor do que Portugal, que
continua incrivelmente centralizado", considera Carlos Lage, segundo o
qual tudo aquilo que se disse antes do referendo de 1998, no qual a
regionalização foi derrotada, "não faz sentido". "A unidade do país é
muito forte, não há risco nenhum. A regionalização é uma questão de
inteligência e bom senso", diz, recordando que isso mesmo foi afirmado,
em Abril, pelo Conselho Regional do Norte, organismo em que têm assento
os 86 presidentes de câmara da região.
Quarenta anos depois da criação da Comissão Consultiva Regional,
aliás, a instituição já mudou três vezes de nome, acumulou competências
nas áreas do planeamento, do ambiente e do ordenamento do território,
passou a distribuir fundos comunitários e criou, com a região espanhola
da Galiza, um Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial, dotado de
capacidade e autonomia jurídicas, que poderá conduzir à criação de uma
eurorregião. O passo seguinte, e natural, considera Lage, passa,
precisamente, pela criação das regiões administrativas, cujo governo
nortenho poderá contar com a experiência técnica e a tradição da CCDRN.
"Será a grande ruptura - aquela que falta fazer", disse ao PÚBLICO o
líder da CCDRN.
Carlos Lage reconhece, aliás, que a comissão deixou já de ter
atribuições meramente técnicas e administrativas: ao assumir a defesa
da regionalização, a CCDRN acaba, também, por assumir um papel
político. "Espero bem que sim, que, dentro de certos limites, tenha
essa dimensão política. Mas não disponho de legitimidade directa",
nota. Lage tem, de resto, assumido um protagonismo político pouco usual
entre os presidentes das demais comissões de coordenação. Defende a
gestão autónoma do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e, no que à
regionalização diz respeito, tem adoptado posições bem mais assertivas
do que as do PS e do Governo que o nomeou para o cargo.
O presidente da CCDRN não nega, aliás, que gostaria que o programa
do PS para as próximas eleições legislativas fosse "mais categórico e
afirmativo" sobre esta matéria. "Mas tem o essencial, a necessidade de
criar consensos quanto à regionalização, e, por isso, abre portas",
considera. Ao contrário do programa do PSD, que remete a questão para
um novo referendo, o programa socialista defende "a criação de
condições para o apoio político e social necessário para colocar com
êxito, no quadro da próxima legislatura, (...) a regionalização
administrativa do país, no modelo das cinco regiões".
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