Público, 04.09.09, José António Cerejo
Poucas vezes a pressa terá sido tanta, ou a eficácia da máquina governamental tão grande: o Conselho de Ministros aprovou ontem a suspensão parcial do Plano Director Municipal (PDM) de Lisboa, pouco mais de 12 horas depois de a câmara ter aprovado uma proposta em que se compromete a emitir um parecer sem o qual o Governo não poderia tomar a decisão que tomou.
A resolução governamental determina a suspensão do PDM na área do
Quartel da Graça, por um período de três anos, por forma a viabilizar a
sua mudança de uso para fins não militares, nomeadamente hoteleiros, e
a cedência ao município dos seus logradouros para criação de um espaço
verde. Nos termos da lei, a decisão do Governo tinha de ser precedida
de parecer camarário.
Sucede que, anteontem de manhã, a autarquia ainda
não tinha emitido tal documento e que ontem à tarde a sua existência
continuava a suscitar dúvidas. Isto porque o executivo camarário, por
proposta do seu presidente, António Costa, limitou-se a aprovar,
anteontem, o texto de um protocolo a celebrar com o Ministério da
Defesa no qual "a câmara aceita emitir parecer favorável" àquela
suspensão do PDM.
A assinatura do protocolo em que esse compromisso
será assumido ainda não tem sequer data marcada, prevendo o vereador Sá
Fernandes, que ela ocorra "durante este mês". Questionado sobre a
existência de tal parecer e sobre a data da sua emissão e aprovação
pelo executivo municipal, o autarca, que tem o pelouro dos espaços
verdes, afirmou: "Mandei ontem [anteontem] um fax ao Ministério da
Defesa a dizer que o protocolo foi aprovado pela câmara, bem como a
suspensão do PDM."
Segundo o autarca, apesar de o protocolo dizer que a
câmara "aceita emitir parecer favorável", a realidade é outra: "Ninguém
tem que fazer um parecer. A câmara foi ouvida e tem várias informações
técnicas que fixam as condicionantes [dos usos futuros do quartel]
vertidas no protocolo." Sá Fernandes acrescentou que "o Governo pediu o
parecer da câmara numa carta do Ministério da Defesa [datada de 17 de
Julho deste ano] e a câmara respondeu através do fax" por ele enviado
anteontem.
O PÚBLICO procurou saber a data e o conteúdo do parecer
municipal que fundamentou a resolução governamental, mas a Presidência
do Conselho de Ministros não respondeu até ao fecho desta edição.
De
acordo com o protocolo a celebrar, e graças à suspensão do PDM ontem
aprovada, os edifícios do antigo quartel da Graça serão concessionados
pelo Ministério da Defesa, mediante concurso público, para ali ser
instalado um hotel ou outros equipamentos de natureza
"turístico/cultural/social". As obras a efectuar e as novas construções
a erguer serão objecto de várias condicionantes negociadas entre as
duas partes. Logo após a assinatura do protocolo, a câmara poderá
limpar e desmatar os dois hectares não cobertos do quartel, abrindo-os
ao público ainda antes das eleições autárquicas.
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