Público, 23.08.09, António Fonseca Ferreira, Coordenador do Grupo de Trabalho Interministerial
A reabilitação e valorização do Arco Ribeirinho Sul, uma faixa da margem esquerda do Tejo marcada por um relevante passado industrial, tem vindo a ser equacionada há vários anos, mas ganhou forma sobretudo a partir da elaboração do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML), aprovado em 2002.
O plano concretizou uma estratégia para essa área, entendendo-a como
oportunidade singular para o desenvolvimento de toda a península de
Setúbal e da própria AML, corporizando o conceito da chamada "Cidades
das Duas Margens", assim reequilibrando a relação da margem Sul com a
Grande Lisboa, face à qual tem sido, tradicionalmente,
secundarizada.
Entende-se por Arco Ribeirinho Sul (ARS) a faixa que vai
da Fonte da Telha - em Almada - até Alcochete, integrando áreas em
requalificação - Costa da Caparica, baía do Seixal - e as antigas áreas
industriais da Margueira, Siderurgia e Quimiparque, hoje inteira ou
parcialmente desactivadas, vastas áreas de terrenos com localização
privilegiada em termos urbanos, de acessibilidades e ambientais. Sendo
propriedade do Estado, favorecem o planeamento e a realização
integradas de novas centralidades de natureza económica, urbanística,
sociais e ambientais.
Se em 2002 esta área era entendida como fulcral
para o desenvolvimento da AML, essa estratégia ganhou novo relevo com a
decisão de projectos estruturantes como o Aeroporto Internacional no
Campo de Tiro de Alcochete, a Alta Velocidade, a Plataforma Logística
do Poceirão, a nova travessia do Tejo Chelas-Barreiro ou os projectos
turísticos em preparação na Margem Sul.
Trata-se de uma nova geração de
projectos de internacionalização da economia portuguesa que vão
reconfigurar a Área Metropolitana de Lisboa e abrir perspectivas de
progresso económico e social para a Península de Setúbal.
Mas estes
investimentos acarretam sérios perigos e desafios para a gestão do
território, pois será necessário evitar a dispersão urbanística e
assegurar a protecção dos valores ambientais estratégicos da península.
Na alteração do PROT-AML, que está a ser ultimada, o ARS constitui
mesmo uma unidade territorial específica para efeitos de planeamento e
gestão. Unidade que se estende por seis municípios, abrangendo uma
população que em 2021 deverá ultrapassar os 550 mil habitantes.
O grupo
de trabalho criado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º
137/2008, de 28 de Agosto de 2008, integrou sete ministérios e
articulou-se com os municípios de Almada, Seixal e Barreiro, concelhos
onde se situam as três áreas industriais a reconverter. Focado numa
visão de internacionalização, metropolitana e de sustentabilidade, o
Plano Estratégico para o ARS, abrangendo uma área de intervenção
superior a 900 hectares, adoptou cinco orientações fundamentais:
valorização do património público; assegurar que da intervenção não
decorrem encargos para o Estado; articulação entre Estado e municípios;
desenvolvimento urbanístico equilibrado que contribua para a
dinamização das actividades económicas e o emprego; e adopção de
critérios urbanísticos e construtivos compatíveis com as melhores
práticas ambientais e de eficiência energética.
Ao longo de cinco
meses, este grupo realizou um intenso trabalho de diagnóstico, de
equacionamento da visão integrada de desenvolvimento, dos planos de
negócio para cada uma das áreas a reconverter, de programação das
intervenções e de definição do modelo institucional de gestão.
Fixaram-se as seguintes prioridades: reforço das actividades económicas
e dos equipamentos colectivos; melhoria do sistema de mobilidade e
acessibilidades; valorização do ambiente e paisagem; e identidades
socioculturais. Assinale-se que o plano estratégico privilegia as
actividades económicas e o emprego, em desfavor da habitação, que tende
a ser excessiva na AML. Como âncoras da sustentabilidade estratégica do
projecto poderão - e deverão - vir a instalar-se administrações e
empresas públicas e privadas de referência.
O Arco Ribeirinho Sul é um
território estratégico para o desenvolvimento de actividades como
serviços avançados e logísticos, as indústrias criativas e a náutica de
recreio. A melhoria do sistema de mobilidade da região, incluindo o
prolongamento do Metro Sul do Tejo e novos terminais portuários e
fluviais, confere ainda maior consistência a este conjunto de
oportunidades.
Estamos perante um investimento que ultrapassa os 500
milhões de euros em infra-estruturas e equipamentos básicos, mas em que
houve o cuidado de reduzir os encargos para o Estado, graças a uma
estratégia ponderada de rentabilização dos activos existentes.
O
projecto do ARS, como está concebido, apresenta uma relação equilibrada
entre desenvolvimento urbano harmonioso e valorização do património
público e dos consequentes investimentos privados. É um projecto para
ser desenvolvido nas próximas duas décadas, em rigorosa coordenação com
a construção do aeroporto e os outros investimentos programados para a
península de Setúbal, e a ser concretizado com base nos parâmetros de
sustentabilidade ambiental e social.
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