Público, 15.08.2009, Diogo Cavaleiro
Quase três quartos dos moradores de Lisboa que responderam a um inquérito lançado pela Câmara Municipal de Lisboa, cujo objectivo era descobrir as "dinâmicas residenciais" no interior da cidade, responderam não ter vontade de mudar de residência. Da mesma opinião mostraram ser 55 por cento de um segundo grupo de inquiridos, estes trabalhadores na cidade, mas moradores nos concelhos suburbanos.
Feito pelo Departamento de Planeamento Estratégico, da Câmara Municipal
de Lisboa, e pelo Centro de Sistemas Urbanos e Regionais do Instituto
Superior Técnico, o inquérito ViverLisboa mostrou também, nos seus
resultados, que a escolha como destino mais comum entre quem respondeu
afirmativamente a uma mudança de casa é a capital. Segundo Manuel
Salgado, vereador do Urbanismo da autarquia, esta resposta "revela que
Lisboa continua a ter uma grande capacidade de atracção, relativamente
à área metropolitana".
No entanto, os bairros históricos de Lisboa não estão nas preferências
dos locais para viver dentro da capital. Apenas 13 por cento dos
inquiridos que se mostram favoráveis à mudança de residência, estando
já a viver em Lisboa, aderem à mudança para uma casa na zona histórica.
Já em relação àqueles que apenas trabalham no concelho e querem uma
nova casa nestas freguesias, a percentagem não chega aos dois dígitos.
Prioridade aos "históricos"
Manuel Salgado defende que estes dados vêm reforçar a ideia da
autarquia de ser necessário dar uma "franca prioridade à reabilitação
dos bairros históricos", aproveitando para dizer que acha justa a
"aprovação do projecto de 120 milhões [de euros] para iniciar a
reabilitação do centro histórico".
A zona norte da cidade é aquela que mais atracção exerce aos potenciais
compradores de casa, destacando-se as freguesias do Lumiar, da
Ameixoeira e da Charneca, no caso dos já residentes em Lisboa, e as
freguesias do Campo Grande e Alvalade, em relação aos apenas
trabalhadores na cidade. O vereador do Urbanismo afirma haver razões
para a escolha, já que são casas "bem equipadas", de "boa qualidade e
espaçosas" e, ainda, "recentes". De acordo com a mesma fonte, o
objectivo para a zona é que se consiga colocar as casas a preços
acessíveis para se compatibilizarem com as posses das famílias de
classe média, de forma a impedir a fuga dos habitantes para as
periferias.
Arrendar não será solução
Do conjunto de respostas positivas sobre uma possível mudança de morada
dentro dos habitantes em Lisboa, apenas cerca de 24 por cento acham o
arrendamento a opção a escolher, contra a grande maioria que quer
comprar a casa. "O mercado de arrendamento ainda não é atractivo",
salienta Manuel Salgado, referindo que são necessários mais esforços
para que a situação se inverta, "seja através de seguros de renda ou da
constituição de bolsas de arrendamento".
O crédito bancário para a compra é, por sua vez, visto como um recurso
a utilizar, já que um número elevado dos inquiridos admitiu esta
alternativa na compra de casa, embora seja mais significativo entre
aqueles que não moram em Lisboa.
Os inquéritos foram realizados entre Outubro de 2008 e Julho de 2009,
com 16.500 respostas validadas no conjunto dos residentes em Lisboa e
7400 em relação aos indivíduos moradores nos arredores em que pelo
menos um dos elementos do agregado trabalhava na capital.
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