Público, 14.08.2009, Patrícia Carvalho
O antigo vice-presidente e vereador do Urbanismo de Rui Rio, Paulo Morais, acusou, ontem, a Câmara do Porto de "entregar o ouro ao bandido", no processo do Bairro do Aleixo. Num texto publicado no blogue Blasfémias, Morais diz discordar do facto de a autarquia "querer entregar o Bairro do Aleixo a uma empresa envolvida como suspeita nos escândalos de corrupção da Câmara de Lisboa".
A visada pelo actual cabeça de lista do PSD à Assembleia Municipal de
Ponte de Lima é a Gesfimo - Sociedade Gestora de Fundos de Investimento
Imobiliário.
O consórcio composto pela Gesfismo e pela Espart - Espírito Santo
Participações Financeiras, duas empresas do Grupo Espírito Santo, foi o
único a apresentar-se ao concurso público aberto pela câmara para
encontrar um parceiro privado na criação de um Fundo Especial de
Investimento Imobiliário (FEII), que deverá gerir o processo do Aleixo.
A câmara quer que o consórcio proceda à demolição do bairro,
entregando-lhe o direito de construir nos terrenos onde hoje estão as
cinco torres da urbanização camarária. Em contrapartida, o consórcio
(que terá entre 70 a 90 por cento do FEII, ficando o município com o
resto) fica obrigado a construir habitações de raiz e a reabilitar
outras para realojar os moradores do Aleixo. Segundo a revista do
município, "a adjudicação [do processo ao consórcio] será feita até ao
final do Verão".
No post publicado no Blasfémias, Morais remete para uma notícia de
Novembro de 2008, onde é referida uma investigação, em que a Gesfimo é
uma das visadas.
Contactada pelo PÚBLICO, a Gesfimo garante, em resposta escrita
(oriunda de um e-mail da Espart), que "a mesma não esteve, nem está,
envolvida em qualquer processo directa ou indirectamente relacionado
com suspeitas de corrupção na Câmara Municipal de Lisboa, sendo
totalmente falsas quaisquer insinuações em sentido contrário".
"É uma decepção"
"Importar a corrupção da Câmara de Lisboa para a Invicta não me parece
boa política", critica Paulo Morais no blogue. O social-democrata
defende que, se o município quer demolir o Aleixo, deve fazê-lo de
forma "clara e transparente". O número dois de Rui Rio durante o
primeiro mandato do autarca (que saiu em ruptura com Rio) defende que
deveria ser a autarquia a assumir o realojamento das famílias do
Aleixo, estimando que se gastaria, em transferências, "sete milhões e
meio de euros em quatro anos", o que, acrescenta, "não representa nem
um por cento do orçamento" camarário.
Com esta decisão, a câmara ficaria liberta para "fazer um jardim ou um
parque naquele magnífico local fronteiro ao rio Douro", continua
Morais. E, se, em alternativa, o município quisesse "recuperar o
capital", de forma "legal e séria", poderia recorrer à hasta pública,
tendo como base de licitação os tais sete milhões e meio de euros
gastos com o realojamento dos moradores, sugere ainda.
Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Morais não quis alongar-se no tema,
dizendo apenas que "é uma decepção" que a autarquia entregue processos
à Gesfimo ou, como esteve quase para acontecer com o Mercado do Bolhão,
à TramCroNe (TCN), também alvo de várias investigações. O PÚBLICO
tentou, sem sucesso, ouvir a Câmara do Porto.
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