Público, 04.08.2009, Abel Coentrão
A perspectiva é praticamente unânime, mesmo para quem apenas visita a região. Que o Norte "é reconhecida, à escala europeia, como uma das regiões mais bem apetrechadas ao nível das rodovias de altas prestações", como nota o vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), Paulo Gomes, é afirmação que nem precisava de estar entre aspas, dada a evidência que só os transmontanos, ainda à espera da auto-estrada até Bragança, podem, por enquanto, contestar.
Só que este impulso da última década e meia vai já em contramão com as
necessidades de alteração dos padrões de mobilidade impostas pela luta
contra as alterações climáticas. E no Plano Regional de Ordenamento do
Território, a CCDRN defende, por isso, que se feche este ciclo, e se
aposte, nas próximas duas décadas, num reforço das ligações
ferroviárias interurbanas, intra-regionais e inter-regionais.
Actualmente em discussão pública, o PROT do Norte contém um capítulo
dedicado à mobilidade, com um conjunto de respostas para a circulação
de pessoas, bens e dados num território cujos níveis de urbanização, e
respectivas relações, podem ser percebidos na infografia ao lado. Mas
esse capítulo começa com um alerta para "o risco de
sobredimensionamento das redes viárias, agravado pela insuficiente
definição do papel de cada uma na hierarquia das ligações nacionais,
regionais e locais", e para o "risco de concentração da procura num
único modo de transporte", o rodoviário, pois claro, com penalização
para "a mobilidade de pessoas e mercadorias e, por arrastamento, [para]
a competitividade das pessoas, das organizações e das próprias cidades".
Num momento em que se antevê a construção de uma linha de velocidade
elevada entre o Porto e Vigo, um dos aspectos fundamentais na política
de transportes para a região é definir investimentos que articulem este
novo serviço com o transporte urbano e suburbano (em modo rodo e,
principalmente, ferroviário) e também com a rede de metro do Grande
Porto. E, neste aspecto, do relatório técnico elaborado pelo perito
António Babo, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
pouco não foi transposto para a proposta final do PROT, um documento
que tem já em conta investimentos em curso na Linha do Norte, na Linha
do Minho (a Variante da Trofa), na Linha do Douro (compromisso de
electrificação até à Régua) e na segunda fase do metro.
Perante estes desenvolvimentos, "do ponto de vista da consolidação do
modelo territorial na Região do Norte", o PROT aponta assim como
"essencial" colocar no horizonte algumas opções a tomar no longo prazo,
no ciclo de investimentos pós 2015, "que possam desde já influenciar
opções de curto e médio prazo". São elas a duplicação e electrificação
da Linha do Minho entre Nine e Viana do Castelo", para a integrar no
serviço de comboios "urbanos" da CP, servindo Barcelos e Viana; a
remodelação da Linha do Vouga e o prolongamento da Linha de Braga até
Guimarães (que fecharia um anel ferroviário de articulação entre as
cidades de Braga, Guimarães, Vizela, Santo Tirso, Trofa e Famalicão, e
um conjunto importante de serviços universitários e de investigação.
O documento propõe ainda que se estude a viabilidade técnica da
integração da cidade de Vila Real no sistema ferroviário principal, o
que, na prática, poderá significar a construção de uma alternativa à
Linha do Corgo, ou um investimento nesta linha maior do que o que está
para começar. No litoral, a grande novidade, a prometer grande debate e
polémica, é proposta de "utilização da Linha da Póvoa para norte da
Senhora da Hora na sua função train (comboio) em detrimento da sua
função tram (metro ligeiro), no âmbito do projecto train-tram que está
a ser desenvolvido pela Metro do Porto, cenário a equacionar no âmbito
de um prolongamento da linha até Viana do Castelo". Uma opção que
implicaria uma aposta clara num serviço com menos paragens para ligar
rapidamente os pólos urbanos entre Matosinhos e Viana (ver texto ao
lado).
O investimento não está contabilizado, até porque muitas destas opções
carecem de estudo, mas Paulo Gomes acredita que, com o impulso
internacional do compromisso que sair da cimeira de Copenhaga, e com
uma agenda nacional virada para a "mobilidade verde", a maior parte das
propostas do PROT acabará por sair do papel, já que se afiguram
imprescindíveis não só para o cumprimento de metas ambientais, mas
também para a competitividade económica da região.
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