Público, 31.07.2009, Abel Coentrão
A presidência da Comissão de Coordenação Regional do Norte (CCDRN) admite que só uma mudança da legislação - com particular ênfase para a lei dos solos - que permita uma mudança no modelo de financiamento das autarquias, demasiado dependente das taxas urbanísticas, poderá ajudar a que os planos directores municipais (PDM) se aproximem eficazmente das directrizes propostas no novíssimo Plano Regional de Ordenamento do Território.
Por lei, a partir do momento em que o PROT for aprovado pelo Governo,
os PDM não poderão contrariar as suas orientações, mas a margem de
manobra e a autonomia que a lei confere às autarquias pode transformar
as virtudes do primeiro PROT do Norte num pacote de ideias para memória
futura daquilo que o Norte, um dia, poderia ter sido. Carlos Lage, presidente da CCDRN, assume o carácter essencialmente
prospectivo do PROT, documento que está concluído e pode ser consultado
e criticado até 9 de Setembro. Até meados desse mês, a CCDRN espera dar
por concluídos dois anos de trabalho, enviando para aprovação pelo
Governo - eventualmente, já ao próximo - o documento estratégico da
região, olhada como área central desse eixo urbano que vai de Lisboa à
Corunha, mas divivida entre um litoral mais urbanizado que se
desenvolve em torno da Área Metropolitana do Porto e as zonas para lá
do Marão, onde, sendo poucos os que lá estão, são frágeis os centros
urbanos existentes.
O desenho de região proposto a partir do contributo de peritos, todo
ele consultável, tal como o documento final, em
http://consulta-prot-norte.inescporto.pt/, assenta num esforço de
articulação entre litoral e interior; mas também entre o espaço urbano,
muitas vezes difuso, e o rural disseminado por todo o território; e
entre o centro (neste caso o Grande Porto), os pólos intermédios
(Braga, Vila Real, e até Aveiro, já fora da região) e a periferia que
vai deixando de o ser com a aproximação a Espanha e à Europa através
das auto-estradas e da ferrovia (Bragança, Chaves e Valença).
Tendo em conta esse objectivo, é defendida uma reformulação do Plano
Rodoviário Nacional que aposte menos nas auto-estradas e mais na
requalificação de estradas "regionais". Afirma-se o carácter essencial
do investimento na ferrovia convencional, a par da ligação por alta
velocidade à Galiza, e definem-se orientações gerais para o uso e
ocupação do solo, tendo em conta também as actividades económicas com
maior potencial em cada zona.
Este aspecto parece ser, claramente, o nó górdio do plano, no qual se
defende a contenção da expansão do solo urbano e, no espaço rural, o
confinamento de áreas de edificação dispersa tão características da
região. A CCDRN, que acompanha a elaboração dos PDM e elabora um
relatório final que, se apontar desconformidades entre o plano local e
o regional, tem de passar pelo crivo do Conselho de Ministros, acredita
que é possível a articulação entre as duas realidades, mas assume que o
actual enquadramento jurídico não é o melhor para o conseguir.
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