Expresso, 04.07.2009, J. F. Palma-Ferreira
A plataforma logística do Poceirão — a maior das 12 unidades que integram a rede do Portugal Logístico, criado em Maio de 2006 por iniciativa governamental — foi aumentada de 400 para 600 hectares, fazendo saltar o respectivo investimento global de €500 milhões para €850 milhões. “A primeira fase terá 262 hectares. O início de construção está agora previsto para o primeiro trimestre de 2010 e o começo da exploração será feito no primeiro semestre de 2011”, refere o administrador-delegado da sociedade LOGZ, Carlos Dias, que gere o Poceirão.
Depois de um atraso de aproximadamente seis meses — relacionado com a
morosidade dos estudos prévios e das autorizações inerentes à criação
de uma infra-estrutura deste tipo —, o Poceirão foi repensado no final
de 2008 e durante o primeiro trimestre de 2009 surgiu com um novo
formato que, segundo a LOGZ, responde melhor a um conjunto mais
alargado de operadores logísticos.
Instalada no edifício da antiga estação ferroviária de Pinhal Novo, no
átrio onde funcionaram as bilheteiras dos comboios, a LOGZ já tem a
nova maqueta da infra-estrutura aumentada para 600 hectares. Comparando
a sua nova dimensão com as outras duas maiores plataformas do Portugal
Logístico, quer a de Castanheira do Ribatejo, gerida pela Abertis, quer
a da Maia-Trofa — com cerca de 100 hectares cada —, ambas só têm cerca
de um sexto da área do Poceirão. Todos os restantes projectos juntos
ultrapassam em pouco a área total gerida pela LOGZ.
“Vai ser uma cidade logística”, diz Carlos Dias. A vantagem do
alargamento da área do Poceirão reside no aumento dos espaços
disponíveis. “Podemos oferecer lotes que vão dos 10 mil aos 120 mil
metros quadrados, o que responde às necessidades de um vasto grupo de
operadores logísticos”, explica o responsável da LOGZ. Aliás, para o
horizonte temporal de expansão do Poceirão — que abrange 40 anos —, a
infra-estrutura é criada de raiz com capacidade adequada ao futuro
desenvolvimento da actividade logística, cujo crescimento será
potenciado pela multimodalidade de transportes.
Ao cruzar todos os modos de transporte de carga — por estrada,
ferrovia, via aérea e marítima — as expectativas de crescimento do
Poceirão durante quatro décadas são elevadas, admitem os promotores da
LOGZ.
“Já temos uma excelente ligação ferroviária ao porto de Setúbal e
contamos captar boa parte do movimento dos dois maiores portos
portugueses, que são os de Lisboa e de Sines”, refere Carlos Dias.
Depois, ainda haverá sinergias entre a futura cidade aeroportuária de
Alcochete e a urbe logística do Poceirão, embora as duas sejam apenas
complementares (não são verdadeiramente interdependentes, porque o
tráfego aéreo de mercadorias destina-se sobretudo a clientes finais).
De qualquer forma, não é por acaso que o grupo brasileiro Odebrecht —
de onde Carlos Dias é oriundo — participa em 35% na LOGZ, através de
uma sociedade-veículo ligada à casa-mãe. “Para a Odebrecht, o Poceirão
é um investimento estratégico”, explica o administrador-delegado. Igual
empenho no projecto foi dado pelos restantes accionistas. A Mota-Engil
também detém 35% do Poceirão, através da Tertir, e o Grupo Espírito
Santo controla os restantes 30% (tem 10% através da ES Property e mais
20% pela Opway).
Sob o ponto de vista comercial, a LOGZ tem intenção de tornar a
infra-estrutura do Poceirão “bastante competitiva”. “A nossa oferta
será interessante para os operadores logísticos, com preços de
arrendamento ajustados à realidade do mercado, o que se tornará mais
aliciante se tivermos em linha de conta todos os serviços disponíveis e
a qualidade do enquadramento em que vão funcionar, bem como a
excelência dos modos de transporte que vão servir o Poceirão”, refere.
O seu funcionamento baseia-se no conceito de condomínio de logística,
que, além dos custos de arrendamento, imputará encargos mínimos para
pagar a vigilância, a manutenção dos espaços e um conjunto de serviços
de apoio, onde não faltarão zonas comerciais, balneários, creches,
bancos e empresas de aluguer de equipamentos. “Será uma verdadeira
cidade, que, na totalidade do projecto, empregará directamente cerca de
25 mil pessoas”, diz Carlos Dias. Para os 260 hectares da sua primeira
fase, implicará um investimento de €350 milhões e envolverá 10 800
empregos directos.
“É preciso entender que este projecto não é um mero loteamento. Implica
um considerável esforço de formação profissional adequada a cada
valência e por isso já fizemos um acordo de cooperação para formar a
mão-de-obra necessária à actividade da logística”, refere.
Com o Centro de Formação Profissional de Setúbal (do IEFP) e o
Instituto Politécnico de Setúbal, a LOGZ conta formar, numa fase
posterior, recém-licenciados nas valências especializadas da logística.
“Para já, o arranque das primeiras acções de formação faz-se no Pinhal
Novo. Terão cursos com a duração de 15 meses que dão uma dupla
certificação, ao nível do 12º ano e qualificações específicas na área
da logística, prevendo-se que já no final de 2009 estejam a ser
formadas mais de 200 pessoas”, adianta Carlos Dias. Esta vertente da
formação será incorporada na área do Poceirão, onde haverá instalações
próprias para formar e actualizar os trabalhadores desta plataforma.
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