Público, 04.07.2009, Luísa Pinto
A maioria parlamentar do PS garantiu ontem a aprovação no Parlamento da autorização legislativa pedida pelo Governo para elaborar um novo regime jurídico da Reabilitação Urbana. Sob os protestos uníssonos de toda a oposição - que chegou a questionar a legitimidade de apresentar uma proposta de tal relevo em final de mandato, o Governo vai agora avançar com uma nova lei que tem como principal novidade a obrigação de reabilitar.
Os proprietários que não o façam poderão, em casos limite, ser sujeitos
à venda forçada das suas propriedades. Todos os partidos da oposição
questionaram a oportunidade de apresentação deste pedido de autorização
legislativa - cuja aprovação em Conselho de Ministros foi feita em
Abril -, tendo a antiga titular da pasta da Habitação do governo PSD,
Rosário Águas, acusado o Governo não só de ter deixada a reabilitação
para o fim das prioridades, como também de pretender destruir o regime
vigente das Sociedades de Reabilitação Urbana, "que demonstraram
resultados objectivos".
O novo regime atribui às autarquias a competência de definir áreas de
reabilitação. Os edifícios que constarem nessas áreas terão a obrigação
de ser reabilitados, em operações que serão geridas por entidades
municipais. Se os proprietários se recusarem a fazer as obras, poderão
ser forçados a vender o imóvel.
No debate surgiram também muitas críticas ao que pode ser visto como um
ataque ao direito de propriedade, tendo o secretário de Estado, João
Ferrão, defendido a medida como a única que pode ser eficaz. Em defesa
da venda forçada, João Ferrão lembrou que os regimes de reabilitação de
outros países como a Suécia e a Espanha consagraram "figuras como a
venda forçada porque perceberam que só assim conseguiriam resultados".
O financiamento que pode ser dado pelo Estado às operações de
reabilitação não está consagrado neste regime. Os partidos da oposição
sublinharam a ausência de apoios, mas também a ausência de debate
público - houve uma sessão que decorreu na passada segunda-feira. Nessa
sessão a "inoperância" da lei das rendas foi muito sublinhada. Ontem,
pela primeira vez, João Ferrão defendeu, em entrevista ao Jornal de
Negócios, que em 2010 a lei das rendas deveria ser revista, bem como
deveria ser criado um seguro de renda.
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