Público, 04.07.2009, Inês Boaventura
A estabilidade das principais políticas públicas ao longo de diferentes mandatos e uma nova divisão administrativa da cidade em que o bairro seja a unidade estruturante são dois dos "pontos cardeais" propostos na Carta Estratégica de Lisboa, que ontem foi apresentada e que António Costa quer pôr em discussão pública até ao fim do período eleitoral.
O comissário-geral da carta definiu-a como "um instrumento de
orientação que nos permite navegar resolutamente entre 2010 - o
centenário da República - e 2024 - o cinquentenário da conquista da
liberdade -, datas de enorme significado e importância". Na perspectiva
de João Caraça, aquilo que o documento propõe é "um caminho coerente,
afirmativo, de oportunidade, de descoberta".
Já o presidente da Câmara de Lisboa frisou que a carta "quer ser uma
fonte de inspiração, mobilização e orientação para os próximos 15
anos", salvaguardando que, apesar de esta abarcar três mandatos
autárquicos, "não é nem podia ser um programa que condicione ou limite
a expressão da vontade popular, que é periodicamente reafirmada".
A expectativa de António Costa é que o documento, que, segundo diz,
"recusa o imediatismo fácil e a simplificação propagandística", seja
"intensamente debatido" na campanha eleitoral e depois aprovado pelos
novos órgãos autárquicos.
O autarca sublinhou a importância de, como sugere a carta que vai ser
agora sujeita a discussão pública, se promover "uma estabilidade
temporal das grandes orientações e das políticas públicas" - aquilo a
que chama "cumulatividade" -, em detrimento de "políticas fragmentadas,
contraditórias e casuísticas de diversos mandatos autárquicos". Quanto
a uma nova divisão administrativa, António Costa defendeu que as
freguesias devem crescer "para ganhar a dimensão do bairro", assumindo
algumas das competências que actualmente estão nas mãos da câmara, que,
por sua vez, deverá apropriar-se de poderes actualmente nas mãos da
administração central.
Os "pontos cardeais" da Carta Estratégica de Lisboa, que incluem também
a assunção da sua centralidade e a afirmação enquanto cidade da
descoberta, resultam da resposta a seis questões que, segundo João
Caraça, "constituem os actuais desafios estratégicos no planeamento da
cidade". Cada uma delas foi trabalhada por um comissário, entre os
quais se incluem Ana Pinho, Augusto Mateus, Simonetta Luz Afonso, Tiago
Farias e João Seixas.
A Manuel Graça Dias coube perceber como tornar Lisboa uma cidade
amigável, segura e inclusiva, meta que não é ainda uma realidade devido
sobretudo aos "excessos cometidos pelas demasiado omnipresentes
soluções viárias". Ontem o arquitecto apresentou um conjunto de
propostas concretas para "revivificar os bairros mais periféricos e
problemáticos", que incluem a transformação de fogos camarários "em
edifícios em open-space, a alugar para oficinas, escritórios ou
indústrias" e a libertação dos pisos térreos de edifícios municipais
para albergarem "espaços culturais, comerciais, oficinais, industriais
ou de estacionamento".
|