Público, 25.06.2009, Inês Boaventura
A alegada criação de uma barreira entre a cidade e o rio, através da construção de edifícios de habitação com quatro pisos junto à linha de água, gerou um coro de críticas contra o Plano de Pormenor da Frente Ribeirinha de Setúbal. A presidente da autarquia diz que quando o plano começou a ser desenvolvido a volumetria era muito superior, tendo sido feitas desde então alterações que permitiram travar "um atentado urbanístico".
O projecto de plano de pormenor, que foi promovido pela Sociedade
SetúbalPolis e já vai na sua nona versão, esteve em consulta pública
até ao início da semana e foi publicamente contestado pela associação
ambientalista Quercus e pelo candidato do PSD às eleições autárquicas,
Jorge Santana. O documento motivou também um abaixo-assinado, com cerca
de 740 assinaturas, onde se critica o surgimento de prédios na frente
ribeirinha, a questão das acessibilidades à Avenida Luísa Todi e zona
envolvente e a carência de estacionamento.
A presidente da Câmara de Setúbal louva a tomada de posição pelos
cidadãos, mas afirma que o abaixo-assinado "foi instrumentalizado
partidariamente" pelo PS, mas duvida que metade dos signatários "tenha
visto o plano de pormenor". Maria das Dores Meira, eleita pelo PCP,
admite que também tem "algumas discordâncias" com o documento, que já
foram transmitidas à Sociedade SetúbalPolis, mas salienta que este
sofreu várias melhorias ao longo dos anos.
A autarca nega que se vá criar uma barreira entre a cidade e o rio,
explicando que estão em causa edifícios com quatro pisos, o que
representa uma volumetria "menor do que a que hoje o Plano director
Municipal prevê". A autarca garante ainda que em 2000 ou 2001, quando o
plano começou a ser desenvolvido e a câmara era presidida pelo PS, a
volumetria prevista no conjunto do documento "era quase dez vezes mais".
Em comunicado, a Quercus considerou o projecto que esteve em consulta
pública uma "oportunidade perdida para uma verdadeira requalificação da
frente ribeirinha de Setúbal", afirmando que, com ele, a Sociedade
SetúbalPolis "acaba de transformar um programa de requalificação urbana
numa mera operação de loteamento". A associação fala em "intervenções
meramente estéticas" em vez de "alterações efectivamente substanciais"
e lamenta a falta de "zonas de lazer de usufruto comum", de
"equipamentos urbanos e sociais" e a ausência de uma ligação com o
centro histórico.
|