Público, 23.06.2009, Luís Filipe Sebastião
Uma associação de moradores lançou há duas semanas uma petição online em defesa do "crescimento sustentado da freguesia de Carnaxide", que até ontem à tarde recolheu 803 subscritores. Os habitantes da freguesia do concelho de Oeiras contestam vários projectos, entre os quais o de uma urbanização junto ao marco geodésico da serra de Carnaxide, que ameaça comprometer uma das zonas de aproximação dos helicópteros ao vizinho Hospital de Santa Cruz.
A petição, endereçada ao presidente da Câmara de Oeiras, assume-se
também contra a "eventual alteração do PDM [Plano Director Municipal]
que implique aumento do índice de construção em vigor em Carnaxide e na
Outurela/Portela". Segundo o texto, o
crescimento de Carnaxide e de Linda-a-Velha "tem sido feito à custa da
degradação da qualidade de vida dos moradores das duas freguesias, onde
existe uma das maiores densidades populacionais do país". Na sequência do "atentado urbanístico" do Alto dos Barronhos/Nova
Carnaxide, alerta-se para outro "desmando imobiliário" em preparação no
Alto da Montanha (Outurela/Portela), com 800 fogos, em prédios de sete
a 12 andares. Uma providência cautelar já foi interposta contra o
projecto pelo Hospital de Santa Cruz, por colidir com uma das zonas de
aproximação dos helicópteros com doentes graves e órgãos para
transplante. Numa outra acção, a Associação de Moradores do Casal da
Amoreira pede a nulidade do licenciamento do empreendimento junto a
moradias de dois pisos, em violação do PDM, e que "descaracterizará
irremediavelmente uma das edificações marcantes da freguesia, o farol e
marco geodésico 'foguetão' de Carnaxide" - que faz parte do sistema de
referenciação para a navegação no Tejo.
Para além das "mais de três mil viaturas/dia no extremo norte de
Carnaxide" que esta urbanização deverá acarretar, a petição alerta para
os 151 fogos em construção a norte do hospital (Alto da Vila, Quinta do
Cerrado e Vila Utopia). Contestados são também os projectos que se
encontram em estudo, "no segredo dos gabinetes da câmara municipal e
dos promotores imobiliários", para a Pedreira dos Húngaros (mais de mil
fogos), para o espaço da Protecção Civil (centro multiusos Edge Tower),
para a rotunda das Cicas (dois prédios de 13 andares) e para Estrada da
Outurela (hotel de oito pisos).
Os peticionários reclamam que a autarquia privilegie a criação de
espaços verdes, equipamentos e acessibilidades. "Não queremos saber de
política. Queremos é preservar alguma qualidade de vida que ainda temos
na freguesia", comentou Carlos Alcobia, presidente da associação de
moradores, notando que a urbanização do Alto da Montanha conta com
várias ilegalidades que tornam nulos os licenciamentos, nomeadamente
por falta dos pareceres favoráveis da Direcção-Geral de Faróis e do
Instituto Nacional de Aviação Civil.
Sobre a petição o presidente da câmara, Isaltino Morais, comentou
apenas, através do gabinete de comunicação, que "não está prevista uma
alteração do PDM que aumente o índice de construção em vigor".
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