Público, 19.06.2009, Luísa Pinto
A proposta aprovada pelo Governo para unificar num único documento legislativo as regulamentações que organizam e estruturam todo o sector portuário português, a chamada Lei dos Portos, recebeu uma rejeição total por parte da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
Em comunicado, a estrutura liderada por Fernando Ruas considera que a
proposta é um "ataque político à autonomia e às competências
constitucionalmente reconhecidas como municipais" e acusa o legislador
de pretender "pôr e dispor do território em causa, sem ter em
consideração a necessidade de compatibilização ambiental e urbanística
deste [território portuário] com o demais território nacional".
A decisão foi tomada pelo Conselho Directivo da ANMP no passado dia 9 de Junho, mas só ontem o parecer foi tornado público.
Os autarcas consideram que o domínio portuário e a área de jurisdição
da respectiva autoridade portuária devem compreender "apenas e
unicamente as áreas de território estritamente necessárias à actividade
comercial do respectivo porto, devendo todas as demais áreas estar sob
a jurisdição da entidade que foi democraticamente eleita e que tem
competência técnica para tomar decisões acerca do ordenamento e
planeamento local, que é o município".
A proposta do Governo foi aprovada em Conselho de Ministros no passado
dia 30 de Abril e terá de ser submetida à Assembleia da República.
Segundo a resolução do Conselho de Ministros, nesta Lei dos Portos
"faz-se uma aposta clara no modelo de landlord port, na gestão de
colaboração, reforçando-se a participação da iniciativa privada na
exploração da actividade portuária". O sistema contempla, também, uma
gestão portuária mais eficiente, clarificando as funções que devem ser
atribuídas aos sectores público e privado. "Ao sector público compete a
gestão do domínio público e o exercício de poderes de autoridade e ao
sector privado competem as actividades de prestação de serviços
portuários num quadro concorrencial e competitivo."
Segundo a proposta, devem ser definidas áreas territoriais que passarão
a estar sob a administração da autoridade portuária (que é nomeada pelo
Governo), o que, segundo a ANMP, "poderá inviabilizar a implementação
de uma política de planeamento e ordenamento coerente nesse mesmo
território", algo que a associação considera constituir "um atropelo às
competências municipais".
"Porque a gestão urbanística é uma competência exclusiva dos
municípios, seja em que território for, e porque os exemplos recentes
são a prova prática de atitudes inconcebíveis em regimes democráticos,
a Associação Nacional de Municípios Portugueses rejeita totalmente a
presente proposta de Lei de Portos", pode ler-se no parecer agora
divulgado.
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