Público, 09.06.2009, Sara Dias Oliveira
Trinta e dois arquitectos de Espinho asseguram que o novo PDM é "desajustado" em relação à realidade do município e solicitam a suspensão da sua aplicação no terreno, para que alguns aspectos sejam novamente analisados. O documento está em discussão pública até sexta-feira e o pedido dos profissionais deverá ser analisado a 19 de Junho.
O grupo de arquitectos que elaboram trabalhos de concepção e projectos
em Espinho avisa que a diminuição da capacidade construtiva na malha
urbana, onde é proposta uma cércea máxima de três pisos, leva à
"diminuição da atracção de investimento pelo aumento do custo do valor
do solo". Sublinham que não há alternativas de crescimento na periferia
e que o máximo de 25 metros quadrados por fracção é "manifestamente
pouco" para uma habitação de tipologia T4. E não têm dúvidas: se o PDM
for aprovado, assistir-se-á a "um grave retrocesso nos actuais padrões
de desenvolvimento e nos níveis de exigência e qualificação
socioeconómica e cultural da população".
"Não defendemos uma cidade vertical, mas o novo PDM tem de permitir a
possibilidade de se desenvolver a arquitectura e criar condições para
se executar soluções em termos urbanos", observa Nuno Lacerda, autor do
Centro Multimeios de Espinho. "É inconcebível um plano ser feito no
século XXI sem a presença de um arquitecto", acrescenta.
Para o arquitecto Rui Lacerda, o PDM "está ultrapassado face à
realidade actual, ao nível da cartografia e do património", e levará o
município a transformar-se "num subúrbio urbano assumido como tal". "As
grandes opções não se coadunam com o que deve ser o desenvolvimento do
concelho, quer no contexto da Área Metropolitana, quer ao nível das
freguesias e do próprio centro", sustenta. Em seu entender, o plano
"não transmite o sentir de um concelho, mas apenas o de duas ou três
cabeças distraídas".
O arquitecto João Castelo também faz parte do grupo de arquitectos que
contestam o novo regulamento, que, em seu entender, é demasiado
"generalista". "Há um plano que é concluído em 2005 e que é posto em
discussão pública em 2009. Há aqui duas realidades que já não são
compatíveis", critica ainda.
Na última discussão pública, o coordenador da revisão do Plano Director
Municipal de Espinho, Paulo Pinho, da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP), rejeitou várias das observações críticas
feitas pelos arquitectos. "Neste momento, temos nas zonas naturais de
crescimento da cidade uma capacidade enorme de crescimento. Desprezar
isso é diminuir a competitividade do território". "Aumentámos
significativamente a possibilidade de se construir em zonas rurais",
disse ainda o professor da FEUP, acrescentando que será possível ter
"aglomerados mais qualificados nas freguesias limítrofes".
Paulo Pinho defendeu ainda que a capacidade de atracção de investimento
e de população é importante, daí uma aposta na diversificação da oferta
em termos de urbanização. "Numa cidade como Espinho, parece-nos
razoável, em termos de cércea, ter rés-do-chão mais dois pisos."
Quanto à redução das áreas de loteamento, o responsável lembrou que
várias áreas não foram urbanizadas, como estava previsto no anterior
Plano Director Municipal de Espinho. "Se não aproveitaram a capacidade
construtiva, então a solução não era a adequada", conclui.
A discussão pública do PDM termina esta sexta-feira. "O documento está
ainda em aberto e vamos avaliar as sugestões apresentadas", explica o
vice-presidente da Câmara Municipal de Espinho, Rolando Sousa. O pedido
de suspensão do novo PDM deverá ser analisado na próxima reunião do
executivo municipal, a 19 de Junho. "A câmara pronunciar-se-á sobre
todas as questões e já ouvimos muita gente", garante o vice-presidente
da autarquia.
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