Público, 06.06.2009, Alexandra Prado Coelho
O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) deu um parecer negativo ao estudo prévio para o Terreiro do Paço, em Lisboa, elaborado pelo arquitecto Bruno Soares, revelou ontem ao PÚBLICO o director do Igespar, Elísio Summavielle.
As objecções do conselho consultivo do Igespar, comunicadas terça-feira
à Sociedade Frente Tejo, responsável pela obra, baseiam-se em "aspectos
formais, sobretudo de impacto visual, a arrumação da placa central, o
enquadramento da estátua", explicou Summavielle e não às propostas de
Bruno Soares para "a organização do trânsito e a topografia".
O director do Igespar lembra, contudo, que se trata de um estudo prévio
e que, numa próxima fase, o arquitecto deverá apresentar o
ante-projecto, que será também analisado e objecto de novo parecer.
Num artigo intitulado "Terreiro do Paço é excepção?", publicado ontem
no semanário Sol, Pedro Santana Lopes, candidato à Câmara de Lisboa,
considerou "inadmissível" o que dizia ser a ausência de pareceres do
Igespar relativamente ao Terreiro do Paço. "Chegou-se ao desplante de o
vereador do Urbanismo responder aos jornalistas, com a obra já a
decorrer, que 'um dia destes o conselho consultivo do Igespar há-de
pronunciar-se'", escreve Santana Lopes. E continua: "Então agora é
assim? A obra vai por aí fora, os contratos vão-se fazendo e ninguém
impõe o cumprimento da lei?"
Duas obras diferentes
Reagindo a estas palavras, Summavielle afirma que Santana Lopes está a
confundir duas coisas: "Há uma obra de infra-estruturas a decorrer no
Terreiro do Paço, que tem a ver com os esgotos e saneamento, e essa tem
tido um acompanhamento arqueológico por parte do Igespar, [que recebe
relatórios e verifica os vestígios arqueológicos que ali aparecem]. E
há uma outra obra, na placa, que ainda não começou, e cujo estudo
prévio [de Bruno Soares] nos foi enviado e sobre o qual nos
pronunciámos." Não há, portanto, segundo Summavielle, aquilo que
Santana Lopes diz ser o aproveitamento "de movimentos de terras de
obras de esgotos e saneamento para mudar o desenho e o perfil de uma
praça que é símbolo cimeiro da História de Portugal".
O projecto de Bruno Soares teve uma primeira apresentação pública no
dia 26 na Ordem dos Arquitectos e também ali foi alvo de críticas.
Vários dos que se encontravam na assistência - composta em grande parte
por arquitectos - questionaram os losangos previstos para a placa
central, o corredor em pedra a ligar o Arco da Rua Augusta ao Cais das
Colunas, passando pela estátua de D. José, os degraus junto ao rio, e,
nas zonas laterais, o padrão de rotas marítimas inspirado na
cartografia portuguesa do tempo dos Descobrimentos.
O arquitecto ouviu atentamente as críticas e admitiu fazer algumas
alterações no projecto, nomeadamente esbatendo os losangos da placa
central. Bruno Soares está actualmente a reformular alguns pontos e a
preparar o anteprojecto.
Uma das críticas mais insistentes durante a sessão na Ordem dos
Arquitectos teve a ver com o facto de não ter existido concurso público
para a obra no Terreiro do Paço, que foi confiada pela Sociedade Frente
Tejo a Bruno Soares. No seu texto, Santana Lopes toca num outro ponto,
considerando "uma aberração política e jurídica" o facto de "ser uma
sociedade do Estado [a Frente Tejo], sem qualquer participação da
câmara, a fazer tudo isto em Lisboa".
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