Público, 04.06.2009, Idálio Revez
A Câmara de Faro vai negociar com a banca uma saída para o centro comercial Atrium, inaugurado há dois anos na cidade, mas deserto de clientes. Só esta zona algarvia poderá vir a contar com nove grandes áreas comerciais, a somar aos que já existem nos municípios de Albufeira e Portimão, onde se implantaram em força. "Estou espantado. Onde é que há consumidores para todas estas grandes superfícies?"
A dúvida de António Mendonça, cabeça de lista da CDU à Câmara de Faro,
foi lançada, anteontem à noite, num debate promovido pela
Acral-Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve, na Escola
de Hotelaria e Turismo, destinado a debater o urbanismo comercial e
futuro económico de Faro. José Vitorino, candidato independente pelo
movimento cívico Com Faro no Coração, declarou-se contra as "grandes
superfícies" por considerar que as grandes cadeias "matam o comércio
tradicional". A título de exemplo citou o caso da Baixa da cidade de
Faro, que entrou num processo de erosão desde a abertura do Fórum
Algarve (grupo Aucham).
O presidente da câmara, José Apolinário (PS), aproveitou para anunciar
que vai propor à banca a aquisição do centro comercial Atrium - imóvel
onde funcionou o histórico Cinema Santo António. Do conjunto de 30
lojas, só quatro é que estão abertas e as três salas de cinema, para
311 espectadores, permanecem vazias. "A Baixa da cidade está
deprimida", anuiu o candidato do PSD à presidência do município,
Macário Correia, que questionou de onde virá o dinheiro: "Não será
irresponsabilidade financeira?"
Serviços públicos e cultura
A operação, explicou José Apolinário, será desenvolvida através de um
fundo imobiliário ou de uma renda de longa duração. Em substituição das
lojas, que não chegaram a abrir, sugere a instalação de dois ou três
serviços públicos e uma área cultural. A proposta financeira ainda não
está definida. A questão de fundo, sugeriu um participante no debate, é
a falta de estacionamento. O Fórum Algarve, com parqueamento gratuito,
transformou-se na nova centralidade da cidade e, com o parque da
Pontinha pago, os clientes da Rua de Santo António afastaram-se ainda
mais.
António Mendonça mostrou-se contra o envolvimento da autarquia no
Atrium. "A câmara não deve abalançar-se a tapar o desastre financeiro
de uma iniciativa privada", disse. Sobre o comércio tradicional de
Faro, um estudo de António Raiado, da Universidade do Algarve, concluiu
que falta aos empresários "capacidade para criar uma marca própria e
espírito associativo".
Às críticas sobre a ausência de um programa de animação para o comércio
local José Apolinário declarou que o município investiu 730 mil euros
em iniciativas para ajudar este sector. Macário Correia reconheceu que
os centros comerciais são "uma realidade a nível mundial" e aos
municípios cabe planear para enquadrar as propostas dos investidores.
"Desde que se construiu a Avenida Calouste Gulbenkian, há 25 anos, não
houve planeamento. O que se anuncia são projectos avulso."
José Vitorino declarou que "sempre" se manifestou contra as grandes
superfícies. "O mercado não se regula a si próprio", sentenciou o
eleito pelo PSD. O debate aqueceu quando José Apolinário confrontou
Macário Correia com o atraso no pagamento de dívidas a fornecedores e o
atraso na abertura do novo mercado municipal.
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