Público, 03.06.2009, Luísa Pinto
Os empresários da construção civil e das obras públicas estão apostados em conseguir convencer a opinião pública a mudar a má imagem que existe do sector. O principal argumento que têm para esgrimir é o do peso que a fileira da construção tem na economia portuguesa - é responsável por 5,5 por cento do produto interno bruto, metade do investimento nacional e mais de 500 mil postos de trabalho.
O novo instrumento que estão a preparar-se para utilizar é uma
estrutura que represente a cúpula das entidades associativas e
empresariais do sector da construção, o que engloba o imobiliário e
todos os serviços relacionados.
A criação da Confederação da Construção e do Imobiliário (CCI) é um
projecto que une há já algum tempo as principais associações desta
fileira. Agora, o projecto já se começou a materializar e estão a ser
preparados os estatutos da nova estrutura que tem como associados
fundadores a Fepicop (Federação da Construção que engloba as
Associações AICCOPN, AECOPS e ANEOP), a APEMIP (Associação dos
Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária em Portugal), a APCMC
(Associação Portuguesa de Comerciantes de Materiais de Construção), a
APCC (Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores) e a API
(Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários).
Manuel Reis Campos, presidente cessante da Fepicop (as eleições na
federação estão marcadas para a próxima semana, em que deve ser eleito
o presidente da AECOPS, Ricardo Gomes), explica que o objectivo da CCI
é assegurar, enquanto parceiro social, a representação "do mais
importante sector da economia nacional" nos organismos nacionais e
internacionais, e exercer todas as actividades que sejam necessárias
para contribuir para o progresso dos sectores que abrangem.
"O sector está em contracção há oito anos, com quebras acumuladas
superiores a 25 por cento. Felizmente, as grandes empresas de
construção têm conseguido bons resultados (ver estudo da ANEOP/Deloitte
noutro texto), mas elas representam dez por cento do sector. O restante
está a enfrentar grandes ameaças, sobretudo na área da habitação",
argumenta Reis Campos.
A aposta nos mercados internacionais tem sido a via mais utilizada
pelas empresas do sector para contornar a crise que está instalada um
pouco por todo o mundo. Mas essa não é uma solução que possa ou deva
ser seguida por todos, afirmando Reis Campos, que também não é
necessário "que se criem internamente obras artificiais". "O sector da
construção só precisa das obras que o país precisa. E ninguém põe em
dúvida a necessidade de se avançar com a reabilitação", insiste,
argumentando que 34 por cento do parque habitacional português precisa
de intervenção, e que esse mercado poderia compensar a quebra nos fogos
novos - no primeiro trimestre construíram-se 7238 fogos, o que
representa menos de oito casas novas por mês em cada município do país.
"Sete casas por mês era a produção de uma empresa!", relembra.
A criação da CCI acaba por surgir como "passo natural", depois das
divergências assumidas pela Fepicop com a CIP (o presidente da CIP,
Francisco van Zeller, referiu que era na construção que havia mais
evasão fiscal). "Com esta confederação pretendemos ter uma voz única,
que represente e defenda os interesses de toda a fileira da construção
e do imobiliário, propondo e pronunciando-se sobre todas as medidas que
possam contribuir para o progresso do sector."
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