in Público, 25.05.2009, Luís Filipe Sebastião
A Câmara de Cascais deferiu a construção de um novo hotel de luxo na Quinta da Marinha e as máquinas começaram nos últimos dias a demolir as estruturas de apoio à antiga piscina, mas o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) quer que o Ministério Público verifique da legalidade do projecto, por não ter sido de novo apresentado a parecer do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC).
O Onyria Marinha Hotel terá uma área de construção de 6278 metros
quadrados, com 68 quartos e quatro suites. A nova unidade hoteleira de
cinco estrelas, junto ao campo de golfe, terá dois pisos acima do solo
e até dois em cave. O projecto contempla ainda estruturas de apoio como
zona de pitch&putt e novo club house.
As obras arrancaram em Outubro passado sem licença camarária, quando o
projecto estava desde Maio de 2008 em apreciação nos serviços
municipais. O vice-presidente da câmara, Carlos Carreiras, responsável
pelo Urbanismo, acabou por embargar os trabalhos, após reiteradas
denúncias do Grupo Ecológico de Cascais (GEC). Na sequência da
apresentação de novos elementos pelo promotor, que alegadamente
corrigiam discrepâncias entre o projecto e as normas da área protegida,
a autarquia deu seguimento ao processo.
Segundo informou agora a câmara, o hotel mereceu um despacho do
vice-presidente a 11 de Maio, após os diversos pareceres técnicos "de
teor favorável". E acrescentou: "Não há qualquer comunicação do ICNB
porquanto o procedimento [Regime da Comunicação Prévia] não se encontra
sujeito a parecer daquela entidade, visto estar enquadrado em alvará de
loteamento aprovado [pelo organismo que tutela o PNSC]."
GEC pondera queixa
"A nossa leitura do plano de ordenamento [da área protegida] é a de que
o projecto tem que ter novo parecer do PNSC", esclareceu, por seu
turno, Sandra Moutinho, assessora de imprensa do ICNB. A mesma fonte
oficial revelou que foi "levantado um auto" na obra e pedido um
inquérito à Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território.
As máquinas, no entanto, prosseguiam com as demolições nos últimos dias.
O instituto, adiantou a porta-voz, também "enviou o processo para o
Ministério Público", para verificar a legalidade do entendimento
diferente da câmara. A posição do instituto já havia sido avançada, em
Novembro de 2008, por Sofia Silveira, responsável pelas áreas
classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste, quando garantiu ao PÚBLICO
que "o Parque Natural Sintra-Cascais tem que ser consultado no âmbito
deste processo". Além disso, parte do terreno está abrangido pelo Plano
de Ordenamento da Orla Costeira.
Pedro Silva Lopes, advogado e membro do GEC, também defendeu que o
projecto de construção devia ser de novo objecto de parecer vinculativo
do organismo do Ministério do Ambiente. Por isso, salientou que "o GEC
está a ponderar a apresentação de uma queixa ao Ministério Público,
junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra", para verificar da
legalidade do licenciamento.
O vereador do Urbanismo reafirmou que a câmara entendeu não ser preciso
novo parecer do PNSC, "uma vez que o projecto respeita os parâmetros
estipulados pelo alvará aprovado" e, embora em área abrangida pelo
PNSC, encontra-se "em perímetro urbano". Carlos Carreiras explicou que
os trabalhos foram retomados após o pagamento, pelo promotor, do valor
das contra-ordenações, por ter avançado com as máquinas, em Outubro, sem ter licença para o fazer.
Posteriormente, confrontado com a decisão do instituto, comentou apenas
"esperar que um organismo dependente do Governo central assuma sempre e
em cada momento as suas obrigações e responsabilidades"
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