in Público, 21.05.2009, Raquel Almeida Correia
A intenção de produzir uma água mineral de origem portuguesa já é antiga, mas só agora é que o plano da Coca-Cola começa a ganhar vida. Depois de a Unicer ter decidido vender a sua fábrica em Gouveia à multinacional norte-americana, o projecto de redimensionamento da unidade fabril foi aprovado pela autarquia local e, agora, recebeu luz verde do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
O organismo considerou, num parecer prévio, que o investimento da
Coca-Cola na região "não é problemático em termos ambientais" para o
Parque Natural da Serra da Estrela, avançou fonte oficial. "O nosso
parecer foi positivo e concertado com a Câmara Municipal de Gouveia",
que já antes se tinha mostrado favorável ao projecto, acrescentou.
O arranque da fábrica da Coca-Cola estava dependente destas duas
autorizações, uma vez que, antes de concretizar a compra da unidade da
Unicer, grupo líder de bebidas em Portugal, a multinacional necessitava
garantir que poderia aumentar a área e a capacidade de produção. Essa
era, aliás, a principal condição para avançar com os planos.
António Pires de Lima, presidente executivo da empresa nortenha,
afirmou ao PÚBLICO que, com estas aprovações, "já será possível
efectivar o contrato final e passar a propriedade da fábrica para a
Refrige", representante da Coca-Cola em Portugal. Disse ainda que "o
parecer prévio [do ICNB] não surpreendeu", dado o impacto que o
projecto vai ter na região.
Capacidade aumenta
O líder da Unicer escusou-se a revelar mais pormenores sobre o
redimensionamento da unidade fabril, acrescentando que "esses
esclarecimentos deverão ser dados pela Coca-Cola". O PÚBLICO tentou
contactar responsáveis da empresa em Portugal, mas sem sucesso.
Sabe-se, porém, que a ideia é aumentar significativamente a área da
fábrica, bem como o número de postos de trabalho.
Fonte do Parque Natural da Serra da Estrela revelou que o parecer
pedido pela Unicer, que ainda é dona da fábrica de Gouveia, incidia
sobre uma "possibilidade de optimização". "Querem dar-lhe uma pujança
que hoje não tem, dinamizando um pólo que já existe, mas que está a
trabalhar a uma escala mais pequena", referiu.
Actualmente, a unidade de Gouveia, cuja construção, em 2001, terá
custado perto de cinco milhões de euros, emprega cerca de 15 pessoas.
Número que tem vindo a descer ao longo dos anos.
A capacidade de produção ronda os 30 milhões de litros de água por ano,
dedicando-se ao enchimento da marca Vitalis. Para a Unicer, o interesse
da Coca-Cola é bem-vindo, uma vez que a empresa nortenha iniciou um
processo de centralização da produção, que culminou, aliás, com o
encerramento de uma fábrica mais pequena em Loulé, em 2007.
Autarquia apoia projecto
O negócio é igualmente aplaudido pelo presidente da Câmara Municipal de Gouveia, Álvaro dos Santos Amaro.
Desde que o contrato-promessa de compra e venda foi assinado, no final
de Janeiro, que o autarca se mostrou "encantado" com o projecto. Na
altura, afirmou ao PÚBLICO que seria "fantástico" que a intenção da
Coca--Cola se concretizasse.
O regulamento do plano de ordenamento do Parque Natural da Serra da
Estrela não previa, inicialmente, a criação de pólos industriais na
zona, nem tão-pouco a sua optimização. No entanto, "a importância da
fábrica, em termos de postos de trabalho, num momento de crise
económica, poderá ter acelerado as autorizações", disse Luís Amaral,
colaborador da Quercus em Gouveia.
A Coca-Cola e a Refrige têm-se mantido silenciosas quanto à investida
no mercado nacional das águas, não tendo sequer revelado o nome que
pretendem dar à marca. Se este negócio avançar, o sector, que hoje vale perto de 280 milhões
de euros e é dominado pela Unicer e pela Central de Cervejas (com a
marca Luso), vai ficar ainda mais fragmentado.
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