in Público, 21.05.2009, José António Cerejo
A marosca foi feita há meses e estava à vista de toda a gente menos da polícia e dos fiscais municipais. A Câmara de Lisboa só se apercebeu da evidência depois de o PÚBLICO ter feito perguntas dobre o assunto. "Já viu aquilo? Puseram ali uns pilaretes com cadeados e quando querem lá pôr os carros tiram-nos - quando se vão embora voltam a pô-los..." A mulher, que andava há meia hora à procura de estacionamento, não escondia a indignação.
"Aquilo deve ser de algum truta. Já houve aí pessoas que telefonaram
para a câmara, mas dizem que não sabem de nada." A conversa passou-se
há umas três semanas na R. Luz Soriano, em frente ao número 73, junto
às antigas instalações do extinto Diário Popular. Logo a seguir a um
aparentemente desnecessário sinal de proibição de estacionamento e
paragem, vários pilaretes metálicos iguais a tantos outros, paralelos à
fachada dos prédios, criavam uma zona onde era impossível estacionar -
excepto para os pequenos smarts, que se instalam na perpendicular à
via. Olhando com atenção, porém, verificava-se que aqueles obstáculos
estavam encaixados num tubo mais largo, enterrado no chão, e presos a
uma engenhosa peça metálica - com dobradiças e também chumbada no solo
com cimento - através de um cadeado.
"Já viu este desplante?", perguntava horas depois um outro morador,
quando três das colunas metálicas já lá não estavam e no espaço antes
vedado para deixar passar os peões - na rua não há passeios - se
encontrava uma carrinha e um automóvel.
Desde então o PÚBLICO passou várias vezes pelo local. Nalguns casos
encontrou os pilaretes no seu lugar e o espaço vazio, noutros
encontrou-o ocupado e sem pilaretes. Nestes casos, os ocupantes eram
sempre os mesmos: uma carrinha Fiat Scudo preta (62-CP-56) e um Golf
cinzento (90-HJ-57), ambos usados por pessoas que têm um escritório no
primeiro andar do número 73.
Questionada a Câmara de Lisboa sobre o assunto, a resposta tardou duas
semanas, mas chegou anteontem, por escrito. De acordo com os serviços
de Tráfego, os pilaretes ali instalados pela autarquia, para "proteger
a entrada de edifícios" e o acesso de peões, nomeadamente em frente ao
73, são fixos, agarrados ao chão.
"Os pilaretes amovíveis foram colocados, ignora-se por quem, sem o
parecer dos serviços." O texto acrescenta que "a zona protegida com
pilaretes amovíveis tem um sinal vertical a proibir a paragem e o
estacionamento, exactamente o contrário da situação abusiva que se
verifica". Por isso mesmo, conclui, "já foram dadas instruções" para
que os mesmos sejam retirados entre terça e quarta-feira (ontem). O
PÚBLICO ainda perguntou se foi levantado algum processo de
contra-ordenação aos donos dos veículos que usavam o espaço, ou se foi
feita alguma participação criminal, mas ainda não obteve resposta.
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