in Público, 21.05.2009, Ana Henriques
O arquitecto britânico Norman Foster recebeu ontem o prémio Príncipe das Astúrias em Artes, mas o projecto que tem para Lisboa, uma torre de 27 andares em Santos, ao pé do rio, poderá nunca sair do papel - tal como aconteceu com outros grandes nomes da arquitectura mundial que projectaram obra para Lisboa.
Questionado ontem sobre se o projecto para o chamado aterro da Boavista
irá por diante nos moldes em que Foster o concebeu, o vereador do
Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, não deu certezas: "O
plano, que já é antigo, vai ter de ser submetido a discussão pública. E
a torre que ele inclui é polémica, tem levantado contestação".
Já para a vereadora social-democrata Margarida Saavedra, o edifício que
a Câmara de Lisboa permitiu que esteja a crescer no terreno ao lado,
uma obra de Manuel e Francisco Aires Mateus que vai albergar a sede da
EDP, compromete a torre de Foster, encomendada por um grupo privado.
"Tal como foi aprovada, com espaço livre à volta, ela fazia sentido.
Mas o edifício que está a ser construído atravanca o espaço,
prejudicando o enquadramento da torre", observou a autarca. "Norman
Foster [também já galardoado com o prémio Pritzker em 1999] não merece
isto", acrescentou Saavedra.
Manuel Salgado explicou que tanto o plano de pormenor da zona nascente
do aterro da Boavista, onde ficará a sede da EDP, como o da zona
poente, que diz respeito à área para a qual trabalhou o britânico,
deverão ser apresentados proximamente na reunião de câmara. "A ideia é
compatibilizar os dois planos", referiu. Margarida Saavedra criticou
também o arrastar das decisões na autarquia, que levam muitas vezes os
investidores a optar por fazer obra em outros concelhos onde os
processos são analisados com mais celeridade, e destacou Oeiras como
exemplo.
Elevadores aprovados
Mais próximo de concretização está o elevador com que a Câmara de
Lisboa quer ligar a Baixa ao Castelo de S. Jorge. Na realidade, são
dois elevadores, um primeiro saindo da Rua dos Fanqueiros até ao Largo
do Caldas e um segundo, panorâmico, arrancando da base do mercado de
Chão de Loureiro até ao seu topo. A obra foi ontem aprovada na reunião
do executivo camarário, mas não sem reparos. Quem chegar ao final deste
percurso terá ainda uma subida a fazer a pé para chegar ao castelo,
criticou a vereadora social-democrata.
Por outro lado, acrescentou, a empreitada adjudicada em 2006 à Soares
da Costa por dois milhões de euros para fazer um silo automóvel no
mercado não contemplava o elevador - portanto, a bem da transparência
será necessário fazer novo concurso público, já que entre o silo e o
elevador serão gastos cinco milhões, defendeu.
Mas os sociais-democratas votaram vencidos neste caso. Do projecto
fazem parte um restaurante panorâmico no topo do mercado e um
supermercado no rés-do-chão.
Entretanto, o presidente da câmara, António Costa, anunciou que não
desiste da intenção de gastar meio milhão de euros provenientes da
parte das receitas do Casino de Lisboa a que a autarquia tem direito em
duas exposições das colecções de arte africana de Joe Berardo e José
Guimarães.
Segundo explicou António Costa, parte daquela verba - 200 mil euros -
destina-se a climatizar o espaço do Terreiro do Paço onde as mostras
terão lugar, o Pátio da Galé, um local que a autarquia mantém arrendado
ao Estado.
Na iniciativa está também envolvida a vereadora dos Cidadãos Por
Lisboa, Manuela Júdice, mas a cabeça de lista deste movimento, Helena
Roseta, já veio dizer que nada tem a ver com as exposições, contra as
quais votará por considerar tratar-se de um gasto excessivo. "Não é a primeira vez nem será a última que os membros dos Cidadãos por
Lisboa têm posições diferentes entre si", declarou Helena Roseta.
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