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Derrocada abre debate sobre centro histórico de Braga Imprimir E-mail

in Público, 20.05.2009, Samuel Silva

O desabamento de uma parede de um prédio antigo na Rua D. Pedro V, no centro de Braga, que ontem fez um ferido, é o segundo acidente do género em oito meses na cidade. Em Setembro morreram três trabalhadores da construção civil. O operário atingido ontem sobreviveu, sofrendo fracturas nas pernas e braços. O trabalhador esteve soterrado durante três horas e meia, mas foi retirado para o Hospital de S. Marcos num estado clínico considerado favorável.

O homem de 38 anos trabalhava na recuperação de um prédio antigo, quando a parede de um edifício contíguo desabou sobre ele. Esteve soterrado debaixo de uma grande pedra, mas acabou por sair com vida, com a clavícula direita e a perna esquerda fracturadas. "Foi uma sorte", reconhece o vereador da Protecção Civil da Câmara de Braga, Carlos Malainho. Os problemas do centro histórico são há muito conhecidos, com cerca de duas dezenas de casas num notório estado de degradação. Em circunstâncias como a de ontem, apenas a sorte pode evitar uma tragédia como a ocorrida há oito meses.

Os edifícios devolutos na zona nobre de Braga chegam quase à centena. Só na freguesia da Sé, a Junta de Freguesia tem 20 casas degradadas contabilizadas. José Alberto Silva considera que a freguesia é "um autêntico barril de pólvora". Preocupação semelhante é a do autarca de S. Victor, onde de situa o edifício ontem atingido. "Existe uma preocupação muito grande em toda a cidade com o estado dos edifícios antigos. Tem que haver um maior acompanhamento", reclama Firmino Marques. Naquela localidade existem "várias dezenas de prédios degradados" e o estado máximo de preocupação é atingido quando se fala da Rua de S. Domingos. "70 por cento dos prédios dessa rua estão desabitados", garante o presidente de junta.

No último ano, os problemas têm-se sucedido. Em Novembro, a Câmara de Braga foi obrigada a mandar vedar um prédio junto ao Arco da Porta Nova, evocando o perigo de derrocada do imóvel. O município acabou por tomar posse administrativa do prédio no início deste ano para que fossem realizadas obras, mas desde então o edifício mantém-se praticamente intocado.

No ano passado, em Fevereiro, ruiu também o interior de uma loja na rua do Souto, a principal artéria comercial da cidade. Na mesma rua está a Sala Egípcia, sede do antigo sindicato dos empregados do comércio, datada dos anos 30 do século XX. "Qualquer dia acontece-lhe o mesmo", antecipa Eduardo Pires de Oliveira. O historiador entende que existem "motivos para preocupação" quanto ao estado de degradação do centro da cidade.
"As casas têm que ter vida. Nas ruas do Souto, Eça de Queirós ou de S. Domingos não vive ninguém", alerta. A solução que preconiza tem inspiração nos vizinhos de Guimarães: "Sem ter um centro histórico excepcional, a cidade fez uma coisa fantástica. Trabalhou na sombra durante dez anos, inventariando as casas existentes e o seu estado. Hoje retirou os frutos." É isso que gostaria de ver feito em Braga.

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