in Público, 05.05.2009, Ana Henriques
Já não vai ser no Dia da Europa, que se comemora no sábado, que serão inaugurados os novos edifícios das agências europeias no Cais do Sodré, em Lisboa, como estava previsto. Após ano e meio de atraso em relação à data inicial apontada para a instalação da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu da Droga à beira-rio, ainda não é desta que o imbróglio parece ter ficado resolvido.
E se, com ou sem inauguração, a Agência de Segurança Marítima planeia
mudar-se do Parque das Nações para o Cais do Sodré no final do mês, o
mesmo não acontecerá com o Observatório da Droga, cujos funcionários só
deverão pôr os pés na nova casa nova lá para Agosto, quando estiverem
prontas obras destinadas a corrigir a empreitada inicial. À excepção do Centro de Informação Europeia Jacques Delors, que se
mudou para um antigo palacete recuperado existente no local em Março de
2008, todo o recinto das agências europeias continua às moscas, apesar
de ter ficado pronto no final de 2007. Porquê? O facto de a
administração portuária não ter tratado do licenciamento dos edifícios
desenhados por Manuel Tainha a tempo e horas, alegando que já tinha as
autorizações necessárias por parte da câmara, ajuda a explicar o
atraso. Por outro lado, foi preciso alterar os edifícios já depois de
prontos, de forma a que as novas instalações pudessem corresponder às
exigências europeias. A cargo de um consórcio constituído pela Somague
e pela Teixeira Duarte, a obra inicial foi feita a contra-relógio, de
forma a que tudo ficasse pronto a tempo da presidência portuguesa da
União Europeia - o que terá feito disparar os custos da empreitada,
estimados inicialmente em 24,3 milhões de euros e custeados pela
Administração do Porto de Lisboa. Afinal, não era preciso ter pressas:
ano e meio depois os novos edifícios continuam por ocupar. Resta saber se a frente de rio defronte das agências ficará acessível a
todos os que ali queiram ir passear, como acontecia antes de as
agências ali serem erguidas. Desde essa altura que há uma cancela à
entrada do local. Já a face do Cais do Sodré voltada ao rio, na
continuação das agências, foi vedada com tapumes na sequência destas
obras. "Não me passa pela cabeça que o espaço defronte das agências não
volte a ser de livre acesso", observa o vereador do Espaço Público da
Câmara de Lisboa José Sá Fernandes. Quanto aos tapumes do Cais do
Sodré, o autarca diz que, se nenhuma entidade se responsabilizar pela
sua remoção, será ele a resolver o assunto. "Aquilo não está ali a
fazer nada!", observa. A barreira que os novos edifícios criam entre a cidade e o rio não é a
única crítica que tem suscitado a instalação das agências europeias à
beira-rio. Uma auditoria do Tribunal de Contas à administração
portuária chegou à conclusão de que este foi um péssimo negócio para os
dinheiros públicos (ver outro texto). O PÚBLICO contactou vários
organismos oficiais, mas nenhum deles conseguiu explicar o adiamento da
inauguração das agências.
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