in Público, 06.05.2009, Tolentino de Nóbrega
O Ministério Público intentou uma acção administrativa especial contra a Câmara do Funchal e o Clube Desportivo Nacional com o objectivo de impugnar o acto de licenciamento das obras construção da segunda fase do complexo desportivo, inaugurada há dois anos na Choupana. O procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal (TAFF) alega que "a obra foi licenciada sem que houvesse, ou fossem incluídos no projecto, os documentos obrigatórios: estudos de impacte ambiental favoráveis e planos de integração paisagística".
Numa das suas últimas acções antes de ser transferido para o continente
- no âmbito do movimento que em Abril levou 11 magistrados a
abandonarem, antes do tempo normal, os serviços do MP na região -,
Arrepia Ferreira sustenta que por tais lacunas o referido acto de
licenciamento, titulado por alvará de 2006, "é nulo e de nenhum efeito
por desrespeitar os condicionalismos fixados no plano director
municipal" do Funchal. A área de intervenção do licenciamento, frisa o procurador da República
junto do TAFF, está classificada no PDM e no respectivo regulamento
como "zona de mata de resinosas e folhosas" da classe de espaços
denominada "espaços agro-florestais". Por isso, acrescenta, "é
condicionante que o terreno de implantação de tal tipo de obras na
mencionada zona tenha área superior a 20 hectares". Lembra ainda que o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação "comina
com nulidade os actos administrativos que decidam pedidos de
licenciamento em desconformidade com planos municipais de ordenamento
do território, como é o caso do PDM, pelo que, conclui, "deve ser
declarada judicialmente a nulidade do acto impugnado". A Câmara do Funchal prepara a contestação da acção, no prazo que expira
a 23 de Maio. De acordo com o presidente da Câmara, Miguel Albuquerque,
"não tem qualquer cabimento a acusação de que a câmara era obrigada a
fazer um estudo de impacte ambiental para a segunda fase do projecto". Tal estudo, esclarece, "somente é exigível quando a área a construir
ultrapassa os 20 hectares, situação que não ocorreu neste
licenciamento." Albuquerque justifica ainda que a câmara licenciou "a
adaptação de uma infra-estrutura que já existia no local. Não houve
implantação nova". Pelo clube, o presidente Rui Alves apenas diz que "os assuntos de
justiça não devem ser discutidos na praça pública, são tratados no
tribunal. É lá que o Nacional vai apresentar os seus argumentos",
promete.
|