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Construtoras mais dependentes do estrangeiro Imprimir E-mail

in Público, 02.05.2009, Luísa Pinto

A culpa é da retracção do mercado interno, que, no que à construção diz respeito, está inserido num ciclo de quebras que já soma sete anos consecutivos. A sobrecapacidade que se instalou com o boom de finais dos anos 90, colidiu com a estagnação nacional e conduziu ao esmagamento das margens. A procura de oportunidades de negócio e as margens pretensamente mais apelativas impeliram a que uma significativa parte do sector da construção português se aventurasse em mercados internacionais.

Esta foi a principal linha de argumentação encontrada pelos consultores da Deloitte na elaboração de um estudo em parceria com a Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas (ANEOP) e que revela um sector "internacionalizado" a duas velocidades. De um lado, os que partiram para colmatar falhas do mercado interno, a maioria, e, do outro, os que fazem do mercado externo uma aposta estratégica de futuro. Mas todas as empresas revelam as mesmas perspectivas de crescimento: nos próximos dois anos, e por causa dos mercados internacionais, as construtoras esperam fazer crescer o seu volume de negócios mais de 10 por cento.

O estudo O poder da Construção em Portugal - Impactos em 2009 e 2010 está a ser realizado pela Deloitte e vai englobar a visão das 50 maiores empresas nacionais de construção (que, em conjunto, apresentam volumes de negócios de 7,4 mil milhões de euros), mas também os principais donos de obra e o Estado. O objectivo é caracterizar tendências e posicionamentos actuais, para desenhar, depois, qual a melhor forma de o sector se organizar (em termos de estrutura, modelos operativos, recursos humanos e gestão de parcerias) para responder às perspectivas de futuro. E o driver da internacionalização impõe-se como um dos mais relevantes, já que tem sido nos mercados internacionais que, entre 2000 e 2007, as construtoras nacionais verificaram, em média, um crescimento de 24 por cento ao ano - o principal impacto situou-se entre 2004 e 2007, com taxas de crescimento anuais na ordem dos 35 por cento.

Estes números evidenciam a crescente dependência das construtoras portuguesas nos mercados internacionais, e também ajudam a perceber a razão que levou a que 70 por cento das empresas que participaram neste estudo tenham, segundo a Deloitte, manifestado intenção de reforçar a sua presença nos mercados externos e que nenhuma tenha admitido estar a ponderar a possibilidade de os abandonar.
"O peso dos mercados internacionais no volume de negócios do sector da construção já ultrapassa os 30 por cento. Não deve haver nenhum sector com um impacto declarado tão expressivo", disse ao PÚBLICO Miguel Eiras Antunes, partner da Deloitte e coordenador deste estudo.

Para Angola e em força
O desenvolvimento do estudo permitiu perceber que a maioria das empresas entende que é por via de parcerias com empresas locais que as construtoras portuguesas abordam os mercados internacionais, apesar de 40 por cento responder que essa abordagem deve ser feita com a abertura de filiais.
Outro dado curioso, mas não surpreendente, é o facto de a totalidade das empresas contactadas pela Deloitte ter assumido ter interesse no mercado angolano. Se os países de língua oficial portuguesa apareceram à cabeça dos mercados mais atractivos, a unanimidade foi destinada a Angola; os mercados da América do Sul, com predomínio do México, foram apontados por 65 por centro das empresas, e metade escolheu ainda os mercados da Europa Central e de Leste.

Mercado previsível
Miguel Eiras Antunes justifica esta unanimidade em relação a Angola com o facto de ser um mercado com oportunidades onde as margens de construção são superiores às do mercado nacional.
"Há também alguma previsibilidade relativamente ao volume de negócios que vai ser conseguido, já que há uma relação de médio prazo com o país, é um mercado conhecido, tradicional, para muitas das empresas", afirma. Já a Europa Central e de Leste "tem oportunidades, mas não tem margens tão apelativas". A abordagem aos mercados da América do Sul tem sido feita pela vertente das infra-estruturas e das concessões, quando nos restantes mercados a abordagem é feita pela construção pura e dura; tal facto limita a entrada nestes mercados aos maiores grupos nacionais, já que não são muitas as empresas que têm capacidade de se apresentar nos mercados com a necessária vertente multi-serviços.

"São as verdadeiras multinacionais do sector da construção que permanecem nos mercados internacionais, e que revelam ter estratégia para eles", afirmou Manuel Agria, vice-presidente da ANEOP. Os resultados preliminares deste estudo sustentam a interpretação de que, quando vier a haver muita obra no mercado nacional, a maioria das empresas de construção vai regressar dos mercados internacionais. Mas as perspectivas internas de crescimento no sector não estão para breve. Segundo Eiras Antunes, o único subsector em que se espera vir a obter um crescimento positivo nos próximos ano é no segmento de engenharia civil (obras públicas).

Manuel Agria sublinha que nem todas as empresas que estão no mercado externo revelam ter uma estratégia para a internacionalização e sublinha que os mercados seleccionados pelas empresas nacionais não são os que estão melhor cotados em termos de rankings. "As nossas empresas têm tido sucesso na aproximação a estes mercados, mas muitas vezes com um acréscimo de risco significativo, e vão para países onde se calhar outros não quiserem ir", admitiu.

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