30.04.2009, Ana Henriques
Os proprietários da moradia do Restelo onde existem vários painéis de Almada Negreiros admitem desistir da sua demolição e reabilitar o imóvel se, em contrapartida, forem autorizados a construir mais um edifício no terreno onde se situa a casa, na Rua de Alcolena. Caso a Câmara de Lisboa não o permita, propõem à autarquia que lhes adquira a moradia por valor superior a dois milhões de euros.
O assunto será em breve discutido pelos vereadores. Seja como for, o
município recusa-se a autorizar a demolição, por entender que o
edifício, da autoria do arquitecto António Varela, tem "um excepcional
interesse no contexto da arquitectura moderna portuguesa". É do gabinete do arquitecto Vasco Massapina o projecto que prevê a
destruição da moradia dos anos 50 e a sua substituição por uma nova
vivenda. Quem assina o trabalho é o seu filho, João Massapina. Técnicas perplexas
As técnicas camarárias que analisaram o processo estranham que a
memória descritiva entregue por este atelier nos serviços camarários
para levar por diante a demolição escamoteie o seu valor enquanto peça
artística e arquitectónica: "Foi com enorme perplexidade que
constatámos que o arquitecto desvaloriza em absoluto a moradia.
Ignora-a como se de uma obra menor se tratasse e desconhece que ela
integra o inventário municipal do património", escrevem num parecer. Com efeito, não há no projecto de Massapina qualquer referência a
Almada Negreiros ou a António Varela. As técnicas desmentem ainda o
estado de "pré-ruína" da casa invocado pelo mesmo arquitecto:
"Encontra-se em razoável estado de conservação. Os sinais de degradação
que apresenta devem-se essencialmente ao abandono e à falta de obras de
conservação periódicas". Ainda de acordo com o mesmo parecer, o jardim que rodeia o imóvel, no
qual os proprietários querem agora construir um anexo, "deve continuar
a ser uma área permeável verde, com manutenção das árvores de médio e
grande porte, e de todos os elementos de carácter simbólico dispersos
pelo mesmo". A reunião de ontem da câmara foi marcada por uma inusitada discussão entre os vereadores Sá Fernandes e o social-democrata Fernando Negrão sobre a sinalética da cidade. No calor da
discussão Sá Fernandes não mediu as palavras. "Agradecia que não me
atirasse perdigotos", disse a Negrão.
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