in Público, 24.04.2009, Luís Filipe Sebastião
Os trabalhos para a ligação pedonal entre a rua e o largo do Carmo, em Lisboa, com a criação de um espaço público nos "terraços" do quartel da GNR, devem avançar durante os próximos dois meses. O projecto do arquitecto Álvaro Siza Vieira, aprovado por unanimidade do executivo lisboeta, levará à conclusão do plano de recuperação da zona sinistrada do incêndio do Chiado, em Agosto de 1988.
De acordo com a proposta apresentada pelo vereador do Urbanismo, Manuel
Salgado, na reunião privada de câmara de quarta-feira, a ligação
pedonal do pátio B (no miolo do quarteirão delimitado pelas ruas do
Carmo e Garrett e Calçada do Sacramento) ao Largo do Carmo constitui
uma prioridade do actual executivo, por se considerar "estruturante e
estratégico" para a revitalização da Baixa-Chiado. A iniciativa
camarária, financiada através das contrapartidas do Casino Lisboa,
representa um investimento da ordem dos 2,5 milhões de euros.
A proposta, frisa o documento de Manuel Salgado, toma em conta o
parecer favorável do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), "condicionado à salvaguarda das questões
estruturais e arqueológicas", e de uma equipa consultiva da autarquia,
composta por reconhecidos especialistas, que também se pronunciará
sobre os projectos de especialidades. Uma nota do gabinete do autarca
acrescenta que sondagens de reconhecimento já realizadas permitiram
"prever a existência de vestígios arqueológicos que importa
salvaguardar e integrar", o que levou Siza Vieira a recomendar o
faseamento da intervenção. A primeira fase consistirá na ligação em rampa e escadas do pátio B ao
patamar da porta sul da igreja do Convento do Carmo; arranjo do patamar
correspondente ao campo de jogos da antiga Escola Veiga Beirão;
tratamento do arruamento na Travessa D. Pedro de Menezes, entre a porta
sul da igreja e o Largo do Carmo; remodelação do pátio a poente à porta
da igreja, actual Museu de Arqueologia, e demolição de várias
construções existentes nos terraços do quartel da GNR, "de fraca
qualidade arquitectónica", ocupadas com uma tipografia e camaratas da
guarda. Estas demolições deverão arrancar "a curto prazo", nos termos
do concurso lançado pela câmara.
"Solução de autor"
A segunda fase, que depende dos resultados das escavações arqueológicas
e dos vestígios que sejam de preservar no local, compreenderá o arranjo
exterior dos terraços do Carmo, com a criação de um espaço público em
articulação entre o Museu de Arqueologia e o futuro Museu da GNR a
criar no quartel do Carmo. "Só se vai manter o antigo picadeiro que
está a ser usado como ginásio", explicou ao PÚBLICO o arquitecto Carlos
Castanheira, da equipa projectista, salientando que a zona pública a
criar nos terraços, com vistas sobre a cidade, terá acesso assegurado
pelo Largo do Carmo e pela rua por baixo do passadiço do elevador de
Santa Justa. O colaborador de Siza Vieira esclareceu que, para além das rampas e
escadas que permitirão vencer o desnível entre a rua e o largo do
Carmo, estão previstos percursos específicos para o acesso de
deficientes motores entre os espaços públicos e os equipamentos. Em
caso de necessidade, funcionará também um elevador de uso público já
existente no edifício Leonel, a par do histórico elevador explorado
pela Carris. A vereadora Helena Roseta adiantou que a proposta foi aprovada por
unanimidade "por se tratar de uma solução de autor" que respeita o
património classificado existente. Todavia, a arquitecta preferia que o
projecto fosse colocado em discussão pública, mas acabou por o aprovar
uma vez que possui pareceres favoráveis de várias entidades.
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