in Público, 17.04.2009, Inês Boaventura
A criação de um fundo municipal destinado à urbanização e habitação, o lançamento de dois hotéis sociais para receber pessoas cujas casas estão em obras, a constituição de uma bolsa de habitação na Baixa e uma operação de formação profissional para a reabilitação são alguns dos projectos propostos no âmbito do Programa Local de Habitação (PLH), cuja matriz estratégica deverá ser sujeita a consulta pública em Maio.
Ontem, durante a conferência de imprensa de apresentação da primeira
fase do programa, a vereadora Helena Roseta defendeu a necessidade de a
Câmara de Lisboa adoptar "uma nova geração de políticas de habitação",
que dê prioridade à reabilitação, e à garantia de condições mínimas de
habitabilidade em todos os fogos, em detrimento de construção nova.
Para a coordenadora do PLH, no topo das prioridades municipais deve
estar aquilo a que chama "bairros de intervenção prioritária", que
incluem áreas urbanas de génese ilegal, mas também bairros considerados
"críticos". Na óptica de Roseta, entre estes contam-se os bairros municipais da
Boavista e do Padre Cruz (com 2475 fogos), bairros com "problemas
graves de segurança e habitabilidade" como o da Liberdade e o de São
João de Brito (com 316 fogos), bem como "bairros de génese SAAL
[serviço de apoio ambulatório local] com processos administrativos
abortados e hoje 'terra de ninguém'". Estes últimos, com um total de 796 fogos, incluem o bairro Portugal Novo, nas Olaias, palco de desacatos no início de Março. A participação dos moradores dos bairros da Câmara de Lisboa na
resolução dos seus problemas habitacionais é outra das medidas que a
coordenadora do PLH quer ver aplicada na tal nova geração de políticas
de habitação, por exemplo através da constituição de cooperativas de
inquilinos que participem na conservação e gestão dos imóveis. Outra
ideia de Ro-
seta é que a acção do sector cooperativo, que actualmente versa apenas novas construções, seja alargada à reabilitação urbana.
Colocar fogos no mercado
Segundo o relatório da primeira fase do plano, existem na cidade 4699
edifícios devolutos, realidade que a vereadora acredita que só poderá
ser revertida se forem estabelecidas "medidas de incentivo" para a
colocação dos fogos no mercado. Entre estas, refere a criação de um
seguro de renda para suportar situações de incumprimento por parte dos
inquilinos e de uma bolsa de imóveis para arrendamento pela Internet
que inclua a oferta e a procura de fogos municipais, privados e
institucionais. Outra proposta é o lançamento de "um RECRIA [Regime
Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados] para
o inquilino", de forma a "antecipar os prazos para colocar as casas no
mercado", já que as obras passariam a ser feitas pelos inquilinos. A vereadora defendeu ainda a criação de um fundo municipal cujas verbas
só poderiam ser utilizadas para as áreas de urbanização e habitação,
manifestando-se contra a alienação de imóveis municipais "para tapar
buracos do orçamento". Roseta lembrou que "os terrenos expropriados por
Duarte Pacheco estão a esgotar-se", pelo que a autarquia "devia estar a
comprar casas para constituir um stock".
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