in Público, 06.04.2009, Samuel Silva
O ex-presidente da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM), Francisco Sande Lemos, entende que a Câmara de Braga deveria promover escavações prévias à execução do projecto para a área envolvente do complexo das Sete Fontes. O arqueólogo prevê que no local podem vir a ser encontrados achados arqueológicos e exige um estudo imediato do local. A autarquia anunciou recentemente a intenção de apresentar, no próximo
mês, um plano de pormenor para as Sete Fontes.
Esse projecto, que
inclui um parque de lazer na envolvente do monumento, prevê também a
construção de um viaduto sobre o local, que servirá para o acesso ao
novo hospital da cidade. Sande Lemos contesta particularmente o traçado da passagem área. "Ainda
não foram realizadas sondagens nos locais onde vão ser instaladas as
sapatas do viaduto", alerta, acrescentando que o projecto se baseia
"naquilo que é visível das estruturas das Setes Fontes". De acordo com
o arqueólogo, especializado no período romano, pode acontecer que uma
das bases dos pilares incida em estruturas escondidas no subsolo. O arqueólogo admite mesmo que no terreno possam vir a ser encontrados
achados arqueológicos de grande valor, como um templo dedicado às
Ninfas, deusas aquáticas. "Não seria surpresa nenhuma, considerando o
local de que se trata", avalia o arqueólogo. Outros equipamentos como
ramais de um aqueduto romano ou medieval, ou outras estruturas ligadas
ao uso da água naqueles terrenos podem também vir a ser encontrados,
segundo crê.
Evitar dissabores futuros
"Estes trabalhos arqueológicos já deviam estar feitos. Mas, como não
estão, o melhor é começar quanto antes, no máximo dentro de dias",
reivindica ainda. Segundo o antigo professor da UM, a autarquia devia
patrocinar "trabalhos arqueológicos intensivos" na área e só depois
desenvolver um projecto de pormenor: "Deviam avançar apenas com todos
os dados em mão". Para Sande Lemos, executar as escavações arqueológicas no imediato
seria uma forma de a autarquia poupar "dissabores" futuros, até porque,
caso venham a ser encontrados achados durante as obras, estas terão que
parar ao abrigo da Lei do Património e isso pode obrigar a uma
reformulação dos projectos. "Mais vale executá-las agora do que depois,
com prejuízos para todos, como está a acontecer nas obras do novo
hospital", entende o ex-presidente da UAUM. O arqueólogo acusa o
executivo camarário de Braga de "persistir em errar" no que toca à
defesa do património histórico da cidade. O vice-presidente da Câmara de Braga, Nuno Alpoim, assegura que na
execução do projecto serão seguidos "todos os procedimentos legais"
para áreas sensíveis do ponto de vista arqueológico. O autarca assegura
ainda que o plano de pormenor para as Sete Fontes vai ainda ser
negociado com o Igespar e que a câmara "seguirá as metodologias que a
tutela propuser", para salvaguardar o património.
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