in Público, 30.03.2009, Jorge Talixa
A decisão da Agência para o Investimento e Comércio Externo (AICEP) de recusar a classificação PIN (Potencial Interesse Nacional) a projectos para a criação de parques temáticos nos concelhos de Alenquer e de Azambuja está a gerar forte desagrado naqueles municípios e parece estar a unir todas as forças partidárias que vêem no projecto do Discovery Park (investimento de 400 milhões de euros e dez mil postos de trabalho anunciados) uma forma de compensar a região pela "perda", na Ota, do futuro aeroporto de Lisboa.
No vizinho município de Azambuja estará em causa a recuperação de uma
ideia antiga de criação de um parque dedicado aos descobrimentos e à
História de Portugal, baptizado de Lusolândia, mas a AICEP também lhe
recusou o estatuto de PIN, considerando que não preenche os requisitos
necessários. Pelo meio, os ambientalistas dão razão à AICEP, criticando
a insistência na ocupação de uma área ambientalmente importante para
onde já esteve previsto o aeroporto e garantindo que existem ali zonas
de montado de sobro ao contrário do que diz a edilidade de Alenquer. Os processos de pedido de classificação como PIN já têm quase dois
anos, mas foi já no final de 2008 que a edilidade de Alenquer soube que
a comissão de avaliação PIN da AICEP indeferira o pedido dos promotores
do Discovery Park. Álvaro Pedro, presidente da câmara, reagiu, pedindo
explicações ao presidente daquela agência estatal, Basílio Horta. No ofício a que o PÚBLICO teve acesso, o autarca do PS considera que
este chumbo "prejudica os interesses dos portugueses em geral e dos
habitantes do concelho em particular" e que a autarquia e os seus
serviços não entendem "a falta de razoabilidade" das posições da
comissão de avaliação. Um ofício de Outubro desta comissão da AICEP sustenta o indeferimento
no facto de terem sido apresentados dois projectos com características
semelhantes - Discovery Park e Lusolândia, que, no total, envolveriam
investimentos de 700 milhões de euros e 12 mil empregos - para áreas
próximas e de, por isso, não se mostrarem viáveis. A câmara estranha
"tamanha incongruência" da comissão, perguntando se uma das principais
atribuições da AICEP não será "fomentar" o investimento. "Porque não
reuniram os promotores de ambos os projectos para tentar um
entendimento?", questiona a edilidade. Álvaro Pedro contesta também outras conclusões "infundadas" da comissão
de avaliação. Diz a AICEP que o Discovery Park ficaria "totalmente
inserido em área de montado de sobro e azinho". Afirma a câmara que o
solo está limpo destas espécies arbóreas há mais de uma década e que os
promotores se comprometem a respeitar os "sobreiros dispersos" ainda
existentes. Garante, ainda, que a empresa promotora se compromete a
"deixar intocáveis" áreas de reservas Agrícola e Ecológica e sublinha
que o problema da servidão aeronáutica também apontado pode ser
resolvido, uma vez que a antiga Base Aérea da Ota já não se encontra
activa.
Basílio Horta respondeu em Fevereiro, referindo que a comissão de
avaliação estranhou "os termos e o teor" da carta de Álvaro Pedro,
dizendo que o indeferimento se baseia na "não verificação dos
requisitos legais que o sistema PIN implica". Basílio Horta referiu,
ainda, que, ao contrário do que diz Álvaro Pedro, não será a decisão da
comissão de avaliação a "retirar" ao país e ao concelho "os alegados
benefícios do projecto", mas "a decisão do promotor em não o realizar,
na formulação e com a implantação proposta, provavelmente pelas
condicionantes económicas e territoriais que a comissão de avaliação
apontou". Garante, finalmente, o presidente da AICEP que a agência tentou "sem
resultado" que os promotores dos dois projectos procurassem "um
entendimento, na expectativa de que conseguissem ser ultrapassadas as
condicionantes apontadas e viabilizado um projecto" e sublinha que o
promotor do Discovery Park poderá prosseguir a sua iniciativa, sem o
estatuto de PIN e que, a seu tempo, as entidades competentes se
pronunciarão sobre ele, conversações que as empresas envolvidas
desmentem que tenham existido.
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