in Expresso, 21.03.2009, João Pereira Teixeira, Engenheiro urbanista
Nos anos 70 o valor do terreno constituía uma percentagem de 12,5% do imóvel. Ao longo dos anos o valor do terreno foi aumentando, quer em valores absolutos, quer em termos percentuais do valor do imóvel. Actualmente chega a atingir 50% do valor do imóvel. Durante os últimos 35 anos parte do problema da habitação foi
resolvido, quer através da promoção estatal e municipal, para famílias
com recursos mais limitados, quer pela iniciativa privada,
fundamentalmente através de crédito à habitação, essencialmente baseado
no crédito bancário.
Uma das soluções está na mobilização dos chamados
“devolutos”. Fogos vazios que não estão a cumprir a sua função social e
que podem ser mobilizados para o mercado do arrendamento urbano, desde
que o Estado e as autarquias apresentem um programa que garanta aos
proprietários as condições de rentabilidade do seu imóvel e que
possibilitem a recuperação dos imóveis em más condições de conservação,
como se verifica numa percentagem significativa de situações. Esta via
foi estudada e a solução foi publicada pela EPUL em documento
apresentado em Novembro de 2007, intitulado “Devolutos — Propostas para
Dinamizar a Colocação dos Fogos Devolutos no Mercado Imobiliário”.
Como todos sabemos são muitas as famílias nas quais coabitam pais com
filhos em idade de constituírem família, que não se forma devido aos
elevados preços da habitação em mercado livre e à actual restrição de
crédito bancário.
Esta situação tem como efeito a baixa taxa de natalidade, que é um dos
mais graves problemas que Portugal enfrenta, com consequências futuras
difíceis de avaliar.
Considerando os aspectos atrás referenciados, uma forma de resolução do
problema é separar o custo do terreno dos restantes custos. O Estado
poderá lançar um grande programa nacional no qual compra em direito de
superfície prédios construídos, ou seja, só adquire a construção ao
construtor e o direito de superfície respectivo (por um período por
exemplo de cem anos). Assim o Estado poderá adquirir estes fogos por
60% ou 70% do seu preço de mercado (porque não está a adquirir o
terreno) e colocá-los no mercado de arrendamento para famílias de
menores recursos. O proprietário poderá recuperar a propriedade do
imóvel daqui a cem anos. Por outro lado ao vender ao Estado, o
construtor poderá pagar os seus empréstimos bancários e o banco poderá
ver resolvido o seu passivo, que de outra forma não verá tão cedo,
porque a probabilidade de venda aos actuais preços é baixa, atendendo
ao período em que estamos e ao preço dos imóveis.
O Estado recuperará muitas vezes o capital investido, porque será
proprietário do imóvel durante cem anos e realizará a sua função social.
As famílias pagarão uma renda mais baixa do que se adquirissem casa
própria. Rendas mais adaptadas ao rendimento familiar permitirão a
constituição de mais famílias e em melhores condições.
Os bancos verão resolvido o problema de parte do passivo.
O construtor vende o imóvel por 60% ou 70% do seu valor, poderá pagar
os empréstimos que tiver junto da banca e deixa um legado importante
aos seus filhos e aos seus netos, um imóvel que daqui a cem anos é
inteiramente deles.
O Estado poderá igualmente dinamizar os fundos de investimento para
esta modalidade, mas para este efeito tem de fazer com que os
“despejos” sejam mais rápidos.
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