Lusa, 19.05.2008
Lisboa tem "uma oportunidade tremenda" de voltar a ligar-se ao rio Tejo, com a libertação de antigas zonas portuárias, mas sem carregar a frente ribeirinha com construção, afirma o catedrático norte-americano Matt Kondolf. O director do departamento de Estudos Portugueses na Universidade de Berkeley, na Califórnia, disse à agência Lusa que "o maior desafio" da reabilitação da zona ribeirinha de Lisboa é a "barreira" do caminho-de-ferro e das instalações portuárias ainda existentes.
Nesses sítios, "o rio está separado da cidade", afirmou, acrescentando
que mudar o tráfego permitiria "aproveitar completamente" a zona, pois
de contrário "existirá sempre um limite". Professor de Arquitectura
Paisagística e Geografia, Kondolf é especialista em rios, na interacção
dos seres humanos com os rios e na sua reabilitação. Em relação a
eventuais pressões imobiliárias sobre a zona ribeirinha, Matt Kondolf
afirmou que "alguns interesses privados" devem ser permitidos: "É uma
zona óptima para as pessoas morarem, mas tudo deve ser feito de uma
maneira sensata, sem carregar a margem com edifícios altos, com o que
se perderia a abertura que caracteriza a zona."
Matt Kondolf, que conhece Lisboa desde 1995, afirmou que a libertação
de zonas portuárias está a acontecer um pouco por todo o mundo, com a
desindustrialização do espaço urbano: "já não são precisos portos
longos e lineares, mas infra-estruturas concentradas". As cidades "só
têm a beneficiar com este processo de "renascimento", livres de tantas
infra-estruturas industriais: Pittsburgh, conhecida como a capital
norte-americana da produção de aço, perdeu grande parte das suas
indústrias, mas "ganhou em qualidade do ar e assistiu a um renascimento
das margens dos dois rios que ali se cruzam", referiu.
O catedrático esteve em Lisboa para uma conferência, comparando as
iniciativas de reabilitação de rios na UE e nos EUA, "rios
negligenciados, muitos em área urbana". Nos EUA, onde já foram gastos
"17 mil milhões de dólares" em iniciativas deste género, as
intervenções para "limpar as águas e tornar os rios atractivos" pecaram
por terem encarado os rios como "estáticos", errando nas prioridades e
na previsão dos efeitos.
Por outro lado, na Europa, apesar de "menos experiência", Matt Kondolf
afirmou encarar "com mais optimismo" as iniciativas deste género,
porque estão a ser planeadas "com sentido estratégico, de uma forma
mais sistemática". Matt Kondolf afirmou que pelas suas características
mediterrânicas, Lisboa tem condições naturais semelhantes aos estuários
da Califórnia.
Lusa
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