Público, 15.05.2008, Catarina Prelhaz
Dois projectos urbanísticos polémicos receberam ontem luz verde por parte da Câmara Municipal de Lisboa. Sem a oposição do PSD e vereadores Lisboa com Carmona, o executivo liderado pelo PS aprovou um projecto de loteamento no Saldanha e a construção de uma torre de 23 andares no Parque das Nações da autoria do arquitecto espanhol Ricardo Bofill.
O nascimento de obra nova em dois lotes na esquina da Avenida de Casal
Ribeiro com a Praça do Duque de Saldanha esteve no cerne das críticas
da oposição. Embora não tenha sido aprovado qualquer projecto de
arquitectura (o previsto para o local, da autoria do arquitecto
português Vasco Massapina, não é para manter, assegurou o vereador Sá
Fernandes, do BE), os vereadores do PCP e dos Cidadãos por Lisboa (CPL)
de Helena Roseta consideram que a Câmara está a abrir um grave
precedente para o futuro daquela zona da cidade.
"Já se estragou tudo o que havia para estragar naquele eixo da cidade",
criticou Helena Roseta, para quem a câmara deveria deixar "a
reabilitação passar à frente da obra nova". Já para a vereadora do PCP,
Rita Magrinho, urge que a autarquia aprove planos para o Campo Grande,
Av. da República, Fontes Pereira de Melo e Saldanha, sob pena de que
haja novas "perversões" da legislação urbanística. "Não deixa de ser
sintomático que a proposta tenha tido apenas votos a favor do PS. Até
mesmo o vereador Sá Fernandes [que governa a câmara com o PS] se
absteve".
O mesmo BE e os CPL também se opuseram à torre projectada para a zona
da rotunda da Alameda dos Oceanos, no Parque das Nações, aprovada com
os votos favoráveis do PS, PSD e Lisboa com Carmona e a abstenção dos
comunistas. Considerando que o edifício terá um "impacto visual muito
forte", Helena Roseta defendeu que nenhum projecto daquela envergadura
deveria ser avalizado sem ser submetido a discussão pública.
Entretanto, a Câmara chumbou a proposta do PCP para a nomeação do novo
conselho de administração da Empresa Pública de Urbanização de Lisboa
(EPUL). Segundo Sá Fernandes, o executivo apresentará "até ao fim do
mês" a proposta de reestruturação da EPUL e das Sociedades de
Reabilitação Urbana para no início de Junho designar a nova
administração da empresa de urbanização. Antes da renovação e da
mudança de estatutos, explicou o vereador, os actuais responsáveis de
EPUL terão de levar à câmara as contas de 2006 e 2007. Numa reunião de oito horas, foram contudo afastadas cinco das
principais propostas. Os planos de Helena Roseta relativos à acalmia de
tráfego, política de habitação, reabilitação do cinema Paris e
classificação da Torrefacção Lusitana, bem como a florestação do Casal
Ventoso advogada pelo PSD não foram a votos. A primeira foi adiada a
pedido dos vereadores de Carmona, que não a estudaram. A habitação
ficou de parte porque será discutida com a vereadora daquele pelouro.
Já a requalificação do Paris e a classificação da Torrefacção serão
analisadas pelos serviços. O vereador do Urbanismo prometeu visitar o
cinema e aferiro seu significado patrimonial para depois decidir como
agir face ao seu proprietário (privado).
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