Público, 08.05.2008, Álvaro Vieira
Os elementos da Plataforma de Intervenção Cívica (PIC) defenderam anteontem, perante a Comissão Parlamentar de Poder Local, que o projecto do novo Mercado do Bolhão, preconizado pela TramCroNe (TCN) e pela Câmara do Porto, viola o Plano Director Municipal (PDM) da cidade, desde logo por prever a criação de espaços de habitação e escritórios privados num edifício reservado ao uso de "equipamento". "Para que ali pudessem ser criadas habitações, o PDM teria que ser previamente alterado", declarou ontem o arquitecto Joaquim Massena ao PÚBLICO, que tentou, sem sucesso, ouvir a Câmara do Porto sobre o assunto.
A Comissão Parlamentar de Poder Local está a proceder a audições com
vista à elaboração de um parecer sobre a petição "contra a demolição do
Mercado do Bolhão", que a PIC entregou a 27 de Fevereiro na Assembleia
da República com cerca de 50 subscrições e que será discutida em
plenário. Anteontem, a comissão ouviu representantes dos comerciantes
do interior e das lojas do exterior do mercado, bem como os arquitectos
Correia Fernandes e Joaquim Massena, defenderem que, por aquilo que já
é conhecido, o projecto que a TCN está a elaborar implica a demolição
do interior do mercado, classificado como imóvel de interesse público,
transformando-o num shopping onde a continuidade dos actuais
comerciantes não está assegurada.
Joaquim Massena disse ao PÚBLICO estar convencido de que os deputados
compreenderam que o projecto de reconversão do edifício que lhe foi
encomendado pela Câmara do Porto nos anos 90 "não está obsoleto, nem é
economicamente inviável", ao contrário do entendimento do actual
executivo municipal, que o preteriu e optou por confiar a remodelação e
exploração, por 50 anos, do mercado à TCN.
Joaquim Massena declarou ainda que os membros da PIC alertaram a
comissão parlamentar para o facto de o último relatório do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil não concluir que o mercado estava em risco
de colapso, ao contrário do sugerido pela autarquia, e para a
circunstância de, em 2005, ter ocorrido a demolição "ilegal" de
elementos decorativos da cornija do edifício. "À martelada, uma
barbaridade! Para essa intervenção era precisa uma autorização do
Igespar e um estudo prévio que não existiram", comentou o arquitecto.
As duas listas concorrentes à liderança da Associação de Comerciantes
do Mercado do Bolhão já estão quase prontas para as eleições do próximo
dia 15. O presidente Alcino Sousa confirma que se vai recandidatar. A
enfrentá-lo estará a lista que se opõe ao programa da TramCroNe, como
esclarece um dos membros, Miguel Mendonça. Do lado de Alcino Sousa a
aposta é pela continuidade da TCN no mercado. P.C.
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