Público, 07.05.2008, Luís Filipe Sebastião
As avaliações de impacte ambiental dos complexos turísticos autorizados para o litoral dos municípios de Grândola e de Alcácer do Sal "apresentam graves deficiências" por poderem ameaçar espécies prioritárias da rede Natura. A conclusão é da Comissão Europeia (CE), que abriu um processo de pré-contencioso contra o Estado português por alegado desrespeito do direito comunitário.
A CE enviou a Portugal uma notificação - primeira fase de um processo
de infracção - para que esclareça, no prazo de dois meses, as
autorizações concedidas aos complexos turísticos e imobiliários Costa
Terra, Herdade do Pinheirinho e Herdade da Comporta em zonas do sítio
de importância comunitária Comporta/Galé. Esta área da rede Natura foi
definida pelo Governo português, ao abrigo da directiva Habitats,
destinada a conservar espaços naturais e proteger espécies importantes
para a biodiversidade.
No entanto, a CE constatou que, segundo um "procedimento acelerado" -
projectos de potencial interesse nacional (PIN) -, foram autorizados,
em 1200 hectares, três complexos turísticos/imobiliários, que incluem
seis campos de golfe, 21 aldeamentos turísticos, 660 moradias e 21
hotéis, totalizando mais de 16 mil camas.
Embora tenham sido realizados
estudos de impacte ambiental aos empreendimentos da Costa Terra,
Herdade do Pinheirinho (Grândola) e Herdade da Comporta
(Grândola/Alcácer do Sal), uma nota da instituição europeia conclui que
"tais avaliações não foram correctas", uma vez que "descuraram os
impactes negativos dos projectos nos habitats e espécies prioritárias"
do sítio da rede Natura", "não avaliaram os impactes cumulativos dos
diversos projectos", nem de outros previstos para a mesma zona, além de
não terem "analisado devidamente soluções alternativas".
A decisão, para Hélder Spínola, presidente da Quercus, "vem ao encontro
das posições das associações de defesa do ambiente" e demonstra que "as
avaliações de impacte ambiental têm sido feitas de uma forma muito
superficial e não têm em conta os seus efeitos ambientais". A
associação enviou, em 2006, uma queixa para Bruxelas contra os
projectos no litoral alentejano. E viu o Tribunal Administrativo de
Lisboa suspender as obras da Costa Terra, em resposta a uma providência
cautelar interposta com o GEOTA.
"O Governo, em relação a uma série de projectos [Natura], e em relação
à travessia do Tejo e ao novo aeroporto, está a ultrapassar
procedimentos que têm as suas regras definidas à escala comunitária",
notou Francisco Ferreira, vice-presidente da Quercus. O Ministério do
Ambiente aguarda, para já, a notificação da Comissão e uma assessora
comentou apenas que "o sr. ministro entende que, nos casos em apreço,
foram salvaguardados os valores ambientais" existentes.
Nunes Correia "tranquilo" com projectos no Alentejo
Nunes Correia não tem dúvidas de que "tudo se vai esclarecer", ficando "a seu tempo" o problema resolvido
a O ministro do Ambiente, Nunes Correia, garantiu ontem que foram
cumpridas todas as regras comunitárias na aprovação de três complexos
turísticos em áreas da rede Natura em Grândola e Alcácer do Sal. A
Comissão Europeia (CE) abriu um processo de pré-contencioso contra
Portugal por entender que as avaliações de impacte ambiental dos
empreendimentos Costa Terra, Herdades do Pinheirinho e da Comporta
"apresentam graves deficiências".
Segundo Nunes Correia, o Governo ainda não foi notificado, mas está
"extraordinariamente tranquilo". E vincou: "Estamos muito seguros
daquilo que fizemos, não infringimos nenhuma regra comunitária. Aquilo
que fizemos fizemos com extrema segurança." Nunes Correia, que falava
no Porto, considerou a notificação como "um procedimento normal": "É
claro que Bruxelas reage a queixas apresentadas e abre estes processos
para averiguar o que se passa."
Os três projectos autorizados para o litoral alentejano, para cerca de
1200 hectares, incluem seis campos de golfe, 21 aldeamentos, 660
moradias e 21 hotéis, totalizando mais de 16 mil camas. A CE concluiu
que as avaliações de impacto ambiental feitas não estão correctas, uma
vez que "descuraram os impactos negativos dos projectos nos habitats e
espécies prioritárias" do sítio da rede Natura Comporta/Galé, "não
avaliaram os impactos cumulativos dos projectos", nem de outros
previstos para a mesma zona, além "de não terem analisado devidamente
soluções alternativas". PÚBLICO/Lusa
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