Público, 26.04.2008, Sara Santos Silva
Na segunda sessão do seminário Porto Redux que a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto está a promover sobre reabilitação urbana, as intervenções tiveram em comum o facto de partirem do geral para convergir no caso do Mercado do Bolhão. Sem que, no entanto, se chegasse a um consenso.
Entre os convidados, houve quem defendesse que, num edifício singular e
útil como o do mercado portuense, não há muito espaço para alterações.
Mas houve também quem tentasse explicar que uma cidade vive de
destruições e de transformações.
Uma casa degradada na Rua de Miguel Bombarda, no Porto, acolheu
anteontem as opiniões dos arquitectos Alexandra Gesta e Nuno Portas, do
geógrafo Rio Fernandes, do presidente da Associação Comercial do Porto,
Rui Moreira, e de um arquitecto da sociedade de reabilitação urbana
Porto Vivo, Rui Losa.
Nuno Portas enviou um texto que serviu de mote à discussão. Sobre a
polémica do Bolhão, o arquitecto disse-se convicto de que, "não fosse a
trapalhada administrativa da câmara, ter-se-ia chegado a uma solução
consensual".
Segundo Portas, o afã de decidir impediu o poder político de perceber
que todos os antecentes históricos mostravam que a alienação do
património não é solução.
Rio Fernandes advertiu que "embonecar o Bolhão é adulterá-lo, é perder
diversidade, acrescentou que se deve salvaguardar e potenciar o
mercado, de forma a que a arquitectura sirva as suas funções e convidou
a câmara e a empresa concessionária TCN a visitar o mercado La
Boqueria, em Barcelona.
Para Alexandra Gesta, "o Bolhão não sofre com certeza por ser fruto de
um mau projecto de arquitectura. Então de que sofre?", perguntou,
deixando implícita uma opinião semelhante às anteriores. Rui Losa afastou-se dos pontos de vista dos demais: "O Porto não é
Conímbriga nem Machu Picchu.". Apesar de definir o Bolhão como um
"excelente mercado que deve continuar a sê-lo", Losa disse que tem a
necessidade e a oportunidade de se transformar, pelas graves patologias
arquitectónicas de que padece.
Antes de se pronunciar sobre o Bolhão, Rui Moreira mostrou o seu
desacordo em relação à actual utilização do Mercado Ferreira Borges,
que considera inútil e nefasta. Avisou ainda que o que se pretende
fazer com o Bolhão implica uma alteração de hábitos da população que
pode acabar por tornar a cidade num território hostil.
A intervenção de Alexandra Gesta foi a mais aplaudida. A arquitecta,
que durante 25 anos coordenou trabalhos de reabilitação de Guimarães,
afirmou que o desenho (arquitectónico) é sempre uma forma de
implementação de posições políticas e que os modelos políticos de
intervenção implicam fazer as coisas mais devagar, com a consciência de
que o tempo de intervenção de que o ser humano dispõe é sempre pouco e
que a reabilitação urbana implica décadas de trabalho.
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