Público, 22.04.2008, Ana Henriques
O PSD deverá fazer aprovar hoje na Assembleia Municipal de Lisboa, órgão no qual detém maioria absoluta, uma moção a acusar a câmara de desrespeito para com o Presidente da República. Em causa está a reabilitação da zona ribeirinha da cidade que a autarquia está a planear, mesmo depois da devolução ao Governo, por parte de Cavaco Silva, do diploma que transfere para as autarquias terrenos desafectados dos usos portuários.
O líder da bancada social-democrata, Saldanha Serra, não aceita os
argumentos usados quer pelo Governo quer pelo responsável da sociedade
que vai reabilitar algumas zonas à beira-rio, José Miguel Júdice -
segundo os quais este processo nada tem a ver com o diploma devolvido,
que o Conselho de Ministros está agora a reformular. "A zona sobre a
qual o Presidente levantou dúvidas é a mesma", diz Saldanha Serra. Na
mesma moção, que visa a maioria PS/Bloco de Esquerda que governa a
autarquia, o PSD manifesta ainda o seu "profundo desagrado" por a
Câmara "pretender excluir a assembleia municipal das decisões sobre o
futuro da zona ribeirinha de Lisboa".
A menos que cheguem a algum entendimento com os socialistas, os
sociais-democratas deverão chumbar hoje também a pretensão da maioria
camarária de levantar as proibições à construção de obra nova na Baixa.
O PS tem argumentado que só assim poderá levar por diante quatro
projectos que entende serem estruturantes para esta zona da cidade: a
instalação do Museu da Moda e do Design num edifício devoluto da Rua
Augusta, a construção de um elevador ou escadaria mecânica entre a
Baixa e a zona do Castelo, a abertura no Carmo de uma esplanada com
vista para a Baixa e a autorização para o Banco de Portugal criar um
Museu da Moeda na Igreja de S. Julião, há muito sem função religiosa.
Alertando para o precedente que pode criar este tipo de decisão, por
poder abrir a porta a muitas outras novas construções antes de serem
criadas regras claras em matéria de licenciamento, e que permitam
aferir da sua integração num tecido urbano de características
excepcionais, o PSD recomenda que seja executado um projecto para a
reabilitação de dois quarteirões desta área histórica. Os
sociais-democratas afirmam que só assim se começará a remar contra uma
das tendências que mais têm comprometido a revitalização da Baixa, a
falta de habitantes. "Não existe necessidade da suspensão parcial dos
artigos 38.º a 40.º do Plano Director Municipal", que proíbem obra
nova, para levar a cabo os quatro projectos em questão, acrescentam.
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