Publico, 16.04.2008
Auditório da Escola Politécnica, em Lisboa, noite de segunda-feira. O segundo debate público sobre o futuro do Parque Mayer reúne centena e meia de pessoas entre actores, investigadores afectos à Faculdade de Ciência de Lisboa, autarcas, arquitectos e cidadãos. Os cinco projectos vencedores da primeira fase do concurso de ideias para a reabilitação do Parque Mayer lançado pela autarquia deixam dúvidas a todos. O desaparecimento de teatros, a violação do Jardim Botânico e a amputação dos Museus da Politécnica estão no cerne das preocupações. No debate revelaram-se receios de que se queira transformar o Jardim
Botânico num novo jardim da Estrela. "Não se podem misturar alhos com
bugalhos, pode sim pensar-se em articulação de alhos com bugalhos". A
tirada é de Manuela Correia, membro da Liga de Amigos do Jardim
Botânico, mas podia ser de qualquer outro dos investigadores da
Universidade de Lisboa presentes no debate.
A verdade é que não gostam da ideia de ver aquele jardim feito num
"novo Jardim da Estrela" com a sua "relva para pisar" e totalmente
aberto aos frequentadores do Parque Mayer. Também censuram quem, como o
arquitecto Souto Moura (responsável por um dos cinco projectos
vencedores para aquele conjunto arquitectónico), quer amputar os Museus
da Politécnica.
"Nós precisamos do espaço que temos agora, ou até precisaremos de mais.
Parece-me completamente inconcebível que queiram cortar um terço ao
museu para instalar outras actividades", censura Liliana Póvoas, do
Museu de História Natural. A realização de um estudo para avaliar o
impacte que as obras de reabilitação podem ter na flora única do Jardim
Botânico é outra das exigências. Mas, segundo os peritos presentes, o
mais gritante é o "desconhecimento" que os projectistas a concurso
demonstram relativamente ao funcionamento daquele espaço da Faculdade
de Ciências. Para a bióloga e museóloga Alexandra Escudeiro, urge criar
ali espaços dedicados à educação e investigação: herbários,
expositores, estufas para algas, plantas tropicais e outras espécies,
bancos de sementes, laboratórios, gabinetes de trabalho, bibliotecas,
oficinas, auditórios e outros equipamentos de apoio.
A preservação do Laboratorio Chimico e dos três edifícios do
Observatório Astronómico ("um deles é chamado barraca, mas na verdade é
uma sala de calibragem onde até um Gago Coutinho já andou") são outros
dos requisitos mínimos reivindicados pelos investigadores.
O terceiro e último debate público sobre os projectos de reabilitação
do Parque Mayer realiza-se na segunda-feira às 18h00, no auditório dos
Museus da Politécnica. As principais propostas apresentadas ao longo da
discussão pública servirão para definir os requisitos que a câmara irá
impor aos concorrentes na próxima fase do concurso, na qual a avaliação
dos cinco seleccionados partirá novamente do zero. C.P.
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